As duplas românticas

Pares que brilham no grande ecrã

As duplas românticas

No mês em que se celebra o Dia dos Namorados relembramos alguns dos mais emblemáticos pares românticos do cinema, e sugerimos um filme de cada dupla, para ver, sempre que possível, a dois.

A chamada Época do Ouro em Hollywood foi a que produziu maior número de duplas românticas no cinema. Estes casais permanecem, ainda hoje, no imaginário do público. Atualmente na indústria cinematográfica dificilmente se encontram atores que contracenem de forma regular como par romântico. Ainda assim, encontrámos alguns.

Groucho Marx e Margaret Dumont

A loucura anárquica que os Irmãos Marx (Groucho, Chico, Harpo) personificaram na sétima arte era dirigida contra todas as convenções e formas de poder instituído, da política aos militares, dos meios universitários aos financeiros, do domínio do desporto profissional ao da música clássica. Margaret Dumont, uma viúva multimilionária e conservadora, corporizava (e que grande corpo tinha!) o universo das elites socias e económicas e constituiu um dos alvos preferidos das investidas demolidoras do impagável Groucho. Ele tentava seduzi-la, interessado nos seus milhões, enquanto flirtava com outras mulheres mais jovens e belas. Ela, ora se deixava aliciar, ora se indignava com as atitudes e piadas depreciativas de Groucho. Da dinâmica deste par improvável, ao longo de sete filmes, nasceram algumas das cenas e dos gags mais geniais e divertidos da história do cinema. No final de Um Dia nas Corridas (1937), Margaret aceita o pedido de casamento de Groucho. Em contrapartida, ele promete não voltar “a olhar para outro cavalo”.

Sugestão: Uma das hilariantes comédias dos famosos Irmãos Marx, que reuniu a dupla Groucho e Margaret pela quinta vez, Um Dia nas Corridas, de Sam Wood.

Olivia de Havilland e Errol Flynn

Os fantásticos filmes de aventura produzidos em Hollywood marcaram o encontro entre Olivia de Havilland e Errol Flynn. A dupla conheceu-se na produção de O Capitão Blood (1935), onde a muito jovem Havilland foi escolhida para contracenar com Flynn. Este filme é o primeiro de oito onde os dois atores são o par protagonista. Ele é o herói perfeito, ela a eterna donzela que se deixa conquistar. Embora tenham vivido na tela belas histórias de amor, nunca se envolveram na vida real. Para Errol Flynn esta foi uma época áurea e o ponto alto da sua carreira.Não voltou a encontrar uma atriz que com ele formasse um par amoroso tão perfeito. Já Havilland, embora estivesse à vontade em filmes de ação e aventura, queria mais… Posteriormente a sua carreira foi marcada por outros sucessos e dois Óscares. A verdade é que nunca mais houve um par como este, nem se voltou a celebrar o espírito de aventura com tamanha pureza.

Sugestão: Um clássico do cinema de aventura em que Errol Flynn interpreta o lendário herói inglês e Havilland a sua apaixonada Marian,  As Aventuras de Robin dos Bosques, de Michael Curtiz e William Keighley.

Ginger Rogers e Fred Astaire

A dupla que animou a América durante a Grande Depressão é uma das mais conhecidas mundialmente e o par de dança mais famoso da história do cinema. Ginger Rogers e Fred Astair revolucionaram o género musical e criaram com os seus passos de dança magia na grande tela. Personificavam um ideal que espelhava glamour, graciosidade e romance e com os seus prodigiosos números de dança, aliados a canções intemporais fizeram, quem os via esquecer as agruras de uma época. Formaram pela primeira vez par em 1933, em Voando para o Rio de Janeiro (1933), onde tinham apenas um número de dança que acabou por ser o ponto alto do filme. Seguiu-se o primeiro musical, A Alegre Divorciada (1934), que marcou também a estreia de ambos como protagonistas. No total dançaram juntos em 10 filmes, reunindo-se pela última vez na tela, depois de uma década afastados, em 1949. Quem os conhecia afirma que se completavam na perfeição.

Sugestão: Considerado um dos melhores musicais de todos os tempos, inclui uma das mais perfeitas cenas de dança, Ritmo Louco, de George Stevens.

Elizabeth Taylor e Richard Burton

Uma apaixonada e conturbada dupla é formada por dois grandes nomes do cinema: Elizabeth Taylor e Richard Burton. O casal contracenou em Cleópatra (1963) e a paixão que viviam nas filmagens foi catapultada para a vida real. Na época os dois eram casados e o affair foi um escândalo. Casaram e divorciaram-se duas vezes, viveram uma vida de excesso e extravagância. No grande ecrã formaram par 11 vezes, muitas delas em filmes inspirados em obras literárias reconhecidas, cujo sucesso cinematográfico não estava à altura do livro. Interpretavam fortes paixões, mas também casais que se odiavam como Quem tem medo de Virgínia Woolf? (1966), sobre um casal em conflito, que valeu a Elizabeth Taylor o Óscar de Melhor Atriz. Apesar dos muitos sobressaltos mantiveram sempre o contacto e quando Burton morreu, a atriz confessou que nunca o deixou de amar.

Sugestão: Épico histórico que juntou a dupla pela primeira vez e que transformou definitivamente Elizabeth Taylor numa grande estrela e na mais bem paga atriz da época, Cléopatra, de Joseph L. Mankiewicz.

Sophia Loren e Marcello Mastroianni

Ao longo de 30 anos os atores italianos Sophia Loren e Marcello Mastroianni contracenaram em 11 filmes. A química entre os dois era perfeita e resultava de forma exemplar nas muitas comédias que fizeram juntos. Destaque para Matrimónio à Italiana (1964), de Vittorio de Sica, realizador que ajudou Sophia Loren a ganhar o Óscar de Melhor Atriz, em Duas Mulheres (1960). Os dois atores também interpretaram vários dramas e a intensidade da dupla transparecia no grande ecrã. Um Dia Muito Especial (1977), de Ettore Scola, onde ambos protagonizam almas solitárias e angustiadas, espelha bem essa energia. Loren e Mastroianni eram amigos na vida real, surgiram juntos no cinema pela primeira vez em 1955 e pela última em 1996, em Prêt-à-Porter. O percurso cinematográfico da dupla foi interrompido pela morte de Mastroianni, apesar disso, continuam a ser lembrados como o par mais famoso do cinema italiano.

Sugestão: Comédia de costumes adaptada da peça de Eduardo De Fillipo, que junta magistralmente a dupla de comediantes, Matrimónio à Italiana, de Vittorio De Sica.

Woody Allen e Diane Keaton

Um realizador neurótico e uma atriz complexa formam o par romântico ideal e são a temática perfeita para uma comédia intelectual. Woody Allen e Diane Keaton personificaram esse ideal, tanto na vida real como nos vários filmes (oito no total) em que trabalharam juntos. Annie Hall (1977), realizado por Woody Allen, é o expoente máximo dessa realidade, narrando de forma autobiográfica a relação entre ambos e revelando as suas verdadeiras personalidades. O filme ganhou inúmeros prémios, entre eles, o Óscar de Melhor Realizador e Melhor Atriz. A história do casal teve início na peça Play It Again, Sam (1969), que ele dirigia e onde ela representava. O sentido de humor de Keaton conquistou-o e mantiveram uma relação durante vários anos, no entanto, quando começaram a contracenar já não estavam romanticamente envolvidos. A dupla acabou por marcar uma geração com os seus diálogos existenciais, onde o humor sarcástico e autêntico elevou os filmes de Woody Allen ao patamar de culto, inspirando o público e muitos outros cineastas.

Sugestão: Comédia romântica que espelha com humor e ironia a relação neurótica de um casal e que arrecadou quatro Óscares, Annie Hall, de Woody Allen.

Lauren Bacall e Humphrey Bogart

Lauren Bacall, “The Look”, como era apelidada, tinha 19 anos quando contracenou pela primeira vez com Humphrey Bogart de 43 anos, no filme Ter e Não Ter (1944). Bacall não era grande fã de Bogart e quando o conheceu não houve uma ligação imediata. Durante as filmagens o ator ajudou-a a ultrapassar as inseguranças e os dois tornaram-se bastante cúmplices. A química que tinham enquanto par romântico transparecia na tela e acabou por manifestar-se também na vida real. Apaixonaram-se e casaram em 1945. No ano seguinte voltam a trabalhar juntos, já como marido e mulher, em À Beira do Abismo, um film noir cuja versão inicial foi adaptada para tirar o máximo partido do fenómeno de popularidade que representava a relação “Bogie e Bacall”. A dupla regressa como protagonista em mais dois filmes. A carreira de Lauren Bacall deixou de ser uma prioridade, dedicando-se ao casamento. Bacall afirmou mais tarde que nunca se arrependeu e que se tivesse investido na carreira teria perdido uma parte essencial da sua vida com Bogart. O casamento terminou 12 anos depois do enlace quando Bogart morreu.

Sugestão: Primeiro filme da dupla depois do casamento. Um film noir baseado no romance de Raymond Chandler, de 1939, À Beira do Abismo, de Howard Hawks.

Penélope Cruz e Javier Bardem

A dupla mais contemporânea das aqui apresentadas protagonizou quatro filmes como par romântico. Penélope Cruz e Javier Bradem tiveram o primeiro encontro, em Jámon Jámon (1992), o filme de estreia de uma muito jovem Penélope. As cenas quentes e o sex appeal dos atores chamaram atenção para o casal. No entanto, só passados 16 anos, na produção de Woody Allen, Vicky Cristina Barcelona, voltam a encontrar-se. E foi precisamente quando acabaram as filmagens que assumiram a relação. O filme, para além de ter impulsionado a paixão entre os atores, deu o Óscar de Melhor Atriz Secundária a Penélope, transformando-a na primeira atriz espanhola a consegui-lo. Ao contrário do que aconteceu noutras épocas, o casal é discreto em relação à sua vida privada, o que não deixa de fazer deles, um dos pares mais populares da indústria cinematográfica atual. Já casados voltaram ao grande ecrã como par romântico em Amar Pablo, Odiar Escobar (2017) e mais recentemente em Todos Sabem (2018).

Sugestão: O mais recente trabalho do casal, um thriller psicológico onde um reencontro familiar acaba por revelar segredos do passado, Todos Sabem, de Asghar Farhadi.