Os livros de fevereiro

Sete livros para suavizar o confinamento

Os livros de fevereiro

O cerco voltou a apertar. O confinamento regressou e eis-nos de novo reduzidos ao espaço doméstico. Acreditamos que a leitura e os bons livros constituem um meio privilegiado de combate ao isolamento e à solidão e de comunhão com o outro, com o seu mundo vivencial e imaginário. Por isso lhe sugerimos sete ótimas companhias de diferentes géneros: romance, historiografia, memorialismo, ensaio, estudo, e narrativa infanto-juvenil. Ligue-se aos outros através dos bons livros!

André Gide

Os meus Oscar Wilde

No final de 1891, em Paris, o jovem André Gide conhece Oscar Wilde. Quatro anos depois reencontram-se no Norte de África e desenvolvem uma influente amizade. A obra Os Frutos da Terra, publicada em 1897, celebração de uma relação mestre/discípulo, foi lida como uma evocação dessa amizade. Gide não confirmou este pressuposto referindo que continha “apenas um pouco de verdade”. O presente livro reúne três textos que o grande escritor francês, Prémio Nobel de Literatura de 1947, dedicou a Oscar Wilde: In Memoriam, escrito após a sua morte, um excerto da autobiografia Si le Grain ne Meurt e um texto de louvor à publicação de De Profundis. Gide, que elegeu a sinceridade como um dos motores fundamentais da sua obra, escreveu: “Wilde tomou o partido de fazer da mentira uma obra de arte. Nada há de mais especioso, mais tentador, mais elogioso, do que ver na obra de arte uma mentira e, reciprocamente, considerar a mentira uma obra de arte”. Tradução, prefácio, interfácio (que inclui uma selecção dos mais significativos momentos dos processos judiciais de Oscar Wilde) e posfácio de Aníbal Fernandes. Sistema Solar

Helder Carita e José Manuel Garcia (Coordenação)

A Imagem de Lisboa

Os textos reunidos neste catálogo constituem um conjunto de comunicações apresentadas, em 2016, no colóquio A Imagem de Lisboa: O Tejo e as Leis Zenonianas da Vista do Mar, com o objectivo de promover a reflexão sobre a relação entre o Tejo e a imagem da cidade de Lisboa, abrindo novas perspetivas sobre a história da capital e do urbanismo português da época moderna. As Leis Zenonianas, promulgadas durante o reinado do Imperador Cezar Zenão (474-491), no contexto do Império Romano do Oriente, resultaram de um conjunto de normativas para a reconstrução de Constantinopla após um grande incêndio, incluídas mais tarde no Codex Justiniano. Na passagem do direito romano para o direito português, estas leis vão ligar as metrópoles de Constantinopla e Lisboa, que apesar de situadas em extremos opostos da Europa, radicavam as suas origens e destinos na relação com o mar e as rotas marítimas. Assumindo as vistas como um direito e um privilégio e agregando à sua volta um universo de conceitos estéticos que valorizam a imagem da cidade em função do Tejo, estas normas contribuíram de forma decisiva para o urbanismo da capital. CML-FCSH/NOVA

Romain Gary

Uma Vida à sua Frente

Uma Vida à sua Frente, de Romain Gary, foi um dos maiores êxitos do único escritor duplamente galardoado com o Prémio Goncourt, em 1956, com As Raízes do Céu e, em 1975, com este romance, facto possível apenas por o ter publicado sob o pseudónimo literário de Émile Ajar. Verdadeiro tratado de humor e ternura, narra, na primeira pessoa, a história de Momo, um rapaz árabe de 14 anos, abandonado pelos pais, e da sua relação com a velha prostituta que o acolhe, Madame Rosa, uma judia sobrevivente de Auschwitz. O jovem narrador reúne, com surpreendente credibilidade, atributos aparentemente inconciliáveis: a inocência e ingenuidade da infância e a capacidade precoce de entender o mundo e de lidar com o sofrimento humano. A adaptação do romance ao cinema por Moshé Mizrahi, em 1977, valeu a Simone Signoret, no papel de Madame Rosa, uma das suas últimas grandes criações. Eloquente testemunho de como o amor pode vencer o preconceito e a discriminação, este é um livro que nos ajuda a viver a vida à nossa frente. Livros do Brasil

Edward Gibbon

História do Declínio e Queda do Império Romano

Segundo a opinião autorizada do historiador Edward Gibbon (1737-1794) “o período da história do mundo em que a condição da raça humana foi mais feliz e próspera decorreu entre a morte de Domiciano até à entronização de Cómodo”. Porém, salvaguarda o escritor: “Os anais dos imperadores [romanos] revelam um variado e enérgico retrato da natureza humana (…). A conduta destes monarcas dá-nos um quadro das linhas extremas do vício e da virtude; a mais elevada perfeição e a mais vil degradação da nossa espécie”. Usando unicamente fontes primárias – textos e documentos escritos por pessoas que viviam na época dos eventos descritos – Gibbon demorou mais de 15 anos a escrever este livro que acompanha o percurso do Império Romano desde o seu auge, no ano de 98 d.C., até ao ano de 1580. Esta edição apresenta a versão reduzida da monumental obra de Gibbon (6 volumes), que o jornal The Guardian elegeu como uma das cem melhores obras de língua inglesa de todos os tempos e o melhor livro de história, também em língua inglesa, preparada por D. M. Low e publicada em dois volumes. Bookbuilders

Mónica Baldaque

Sapatos de Corda

Mónica Baldaque começou a escrever este livro ainda a mãe (a escritora Agustina Bessa-Luís) era viva. A ideia surgiu-lhe aquando da leitura das cartas que Agustina escrevia à sua mãe (avó de Mónica), muitas delas aqui reproduzidas. A obra leva-nos ao encontro de uma outra Agustina, através das impressões da filha, fundindo-se as duas na memória que habita estas páginas. A autora fala-nos, com delicadeza e grande sensibilidade, do tempo passado com os seus pais em Coimbra, no Porto, em Vila do Conde e na região do Douro, revelando aspetos inéditos da vida e personalidade de Agustina, como este: “Quando lhe perguntaram se tinha tido pena de não ganhar o Nobel, ela respondeu que só tinha tido pena por não ter dançado com o rei! Pois vesti-lhe [quando morta] um vestido de baile para que fosse preparada para uma dança, com o rei, com Deus!” A capa do livro reproduz o esboço de uma mulher com o olhar fixado no mar. Tem um vestido comprido, está ligeiramente curvada, com o queixo pousado na mão. Toda a paisagem é da cor do linho. Do mesmo linho que Agustina vestia nos dias quentes de verão. Relógio D’Água

Patrícia Silva

Jobs For the Boys?

Sobre um fundo amarelo vivo recorta-se uma pasta negra fechada. Uma pasta vulgar, como as que usam tantos funcionários públicos administrativos. O presente ensaio pretende abrir esta pasta negra. “Jobs for the boys”. “Dança das cadeiras”. “Boycracia”. “Assalto ao Estado”. Todos conhecemos estas expressões, que sugerem a existência de favoritismo e politização na atribuição de empregos na administração pública. “É difícil encontrar um contexto democrático em que os atores políticos não procurem controlar a administração pública, socorrendo-se das nomeações”, escreve a autora, doutorada em Ciência Política. A obra enquadra a questão e identifica possíveis pontos de equilíbrio entre o controlo democrático da administração e a limitação da margem de manobra dos políticos na escolha de dirigentes. Termina avançando três propostas que prometem estimular a discussão sobre estratégias para conter os danos da politização dos serviços públicos. Porque é urgente “limitar, melhorar e exigir.” Fundação Francisco Manuel dos Santos

David Machado e Paulo Galindro

O Tubarão na Banheira

Um menino vai pescar com o avô. Mas, sem óculos, o avô não vê um palmo à frente do nariz, e acaba por levar para casa um tubarão em vez de um peixe! E agora? O tubarão não cabe num aquário! A única solução é pô-lo na banheira! Mas como reagirão as pessoas que moram lá em casa? O menino, aquele que pescou o tubarão, tem um caderno de palavras difíceis onde descreve todas essas reações. David Machado, vencedor do Prémio da União Europeia para a Literatura e do Prémio Salerno Libro d’Europa, tradutor de Bioy Casares e Mario Benedetti, conta uma história absurda e muito divertida. Paulo Galindo, ilustra de forma minimal, sem cenários, usando para a personagem principal roupa real: a roupa dos seus filhos. De regresso às livrarias, eis um dos grandes sucessos editorias da literatura infanto-juvenil portuguesa da última década, agora em 13.ª edição! Caminho