Joana Gama

A pianista apresenta "As Árvores não têm Pernas para Andar"

Joana Gama

As Árvores Não Têm Pernas Para Andar é a proposta do Teatro São Luiz para os mais novos em janeiro. Um concerto para crianças entre os 3 e os 6 anos, onde a pianista Joana Gama dá a conhecer bonitas histórias sobre o mundo maravilhoso das árvores.

As crianças são um público mais desafiante do que os adultos?

É uma experiência muito diferente da de apresentar concertos para adultos, sem dúvida. Gosto muito da espontaneidade das crianças e a peça Nocturno (2017) que criei com Victor Hugo Pontes, que envolveu idas a escolas durante o processo de criação e conversas pós-espetáculo, fez-me querer continuar a tê-las por perto, porque é simultaneamente exigente e divertido.

Qual foi a reação mais inusitada que obteve de uma criança durante um espetáculo seu?

No final de uma apresentação do concerto Eu gosto muito do Senhor Satie, uma criança veio ter comigo com um ar preocupado e disse ‘Agora estou com um problema. Eu achava que gostava do saxofone, mas agora acho que gosto mais do piano!’.

Em janeiro, leva As Árvores não têm Pernas para andar ao São Luiz. Porquê esta temática?

Em 2019 assisti a uma conferência de Emanuele Coccia no CIAJG, em Guimarães, onde o filósofo referiu que se apercebeu, a propósito da educação da filha, que às crianças é ensinada a diferença entre os animais mas não entre as árvores, o que limita desde logo a fruição desse mundo maravilhoso e tão diversificado. Na altura apontei esta ideia num caderninho e, quando recebi o convite da Fundação Lapa do Lobo para fazer um espetáculo portátil com toy piano, lembrei-me de passar do papel à ação e fazer o espetáculo à volta dessa temática, dando assim uma pequena contribuição para algo que julgo bastante pertinente.

Qual foi a parte mais difícil, mas também a mais gratificante, ao montar este espetáculo?

A cenografia tem um papel preponderante no espetáculo e foi literalmente um quebra-cabeças articulá-la com as outras componentes. Por isso dei por mim horas a fio a manipular cubos gigantes: quem me visse diria que estava a brincar – e não posso dizer que não fosse divertido – mas, até conseguir definir a logística associada, houve alturas em que me senti verdadeiramente em apuros.

Que efeitos pode ter a música no universo de uma criança?

A música é um mundo muito vasto e estimulante a vários níveis e os benefícios de estudar um instrumento não são uma novidade. É muito comum que as crianças gostem de cantar e dançar e é pena que, com o tempo, muitas percam essa naturalidade.