Aurea

"A cultura salva e ampara o ser humano de muitas formas"

Aurea

Lançou o álbum de estreia em 2010 e rapidamente a sua imagem ficou associada a uma sonoridade soul e funk. Entretanto lançou mais três, ganhou vários prémios, assumiu o papel de mentora no programa The Voice, da RTP, onde se mantém há cinco anos, e não para de surpreender com os seus dotes vocais. A 15 de janeiro, regressa aos palcos com um concerto inserido no festival Santa Casa – Portugal ao Vivo. Aurea é uma das primeiras entrevistadas do ano que agora começa, um bom auspício para um (re)começo que se quer positivo e em tudo diferente de 2020.

Em que altura percebeu que a música era o seu caminho?

Há sensivelmente 11 anos, quando o meu amigo Rui Ribeiro me ouviu a cantar em tom de brincadeira e me propôs gravar uma música em sua casa sem me dar grandes pormenores sobre o que estaria eventualmente a planear. Eu desconhecia totalmente que ele trabalhava para uma agência de música e que naquela altura estavam à procura de uma nova artista para lançar no mercado.

Os seus primeiros discos tinham uma sonoridade soul e funk muito forte, mas o mais recente, Confessions, tem uma estética sonora diferente. De onde veio esse desejo de mudança?

Quando lancei os primeiros discos, a soul music era um género que estava a descobrir e que ouvia muito, talvez isso tenha influenciado na altura de escolher os temas e a estética para o arranque de tudo. Na verdade, sou uma pessoa que não gosta de pensar em rótulos e que acredita que um cantor é muito daquilo que consome, que ouve, que vive no momento e deve, sem dúvida, deixar-se levar por tudo isso, porque acaba por tornar tudo mais orgânico e verdadeiro. Julgo que é isso que acontece no meu caso quando decido lançar um novo trabalho e me reúno com a minha equipa para decidirmos a sonoridade de um novo disco. Sinto a necessidade de seguir o coração e o que lanço tem tudo a ver com o meu estado de espírito, as influências que sobrevoam a minha cabeça e os meus ouvidos; e deixo que as coisas surjam naturalmente sem limitações ou entraves.

À medida que a idade vai avançando sente mais vontade de arriscar, de fazer música de forma diferente?

Sinto cada vez mais vontade de ser fiel a mim própria, isso sim! De passar mensagens que me sejam importantes, de contar histórias que me toquem o coração e o de quem as ouve, de cantar o que gosto realmente e de ser cada vez mais feliz a fazer música.

Confessions reúne segredos seus e de várias pessoas que lhe são próximas. A música tem também um papel catártico?

Sem dúvida! Costumo dizer que a música é uma terapia, não só para quem a está a ouvir, mas para quem a está a cantar ou tocar. Tem sido a minha fiel companheira ao longo destes dez anos e já me trouxe muitos momentos felizes, de purga, de recuperação, de força… A música tem o poder de fazer tudo isso, as artes têm o poder de fazer tudo isso! A cultura salva e ampara o ser humano de muitas formas diferentes!

“A música é uma terapia, não só para quem está a ouvir, mas para quem a está a cantar ou tocar.”

Juntamente com Marisa Liz, criou o projeto Elas. Como surgiu a ideia?

A ideia de trabalharmos juntas já tinha passado pela cabeça das duas há algum tempo, parecia uma coisa inevitável de acontecer algures nas nossas vidas… Entretanto a Marisa antecipou-se e, num convite para jantar, acabou por me fazer a proposta, que era irrecusável e que me deixou extremamente feliz! É maravilhoso poder partilhar música com um ser humano que nos é próximo e de quem gostamos muito, como uma amiga!

Depois dessa experiência a cantar em português, pensa lançar, um dia, um disco totalmente em português?

Claro que sim, nunca esteve fora de hipótese e vai acontecer muito em breve.

De que forma é que o confinamento tem influenciado o seu trabalho? Trouxe-lhe inspiração e tempo para compor?

Durante o confinamento, curiosamente, não tive vontade de cantar, compor, nem me sentia criativa. Foi uma fase para refletir, para fazer um balanço daquilo que foram os últimos dez anos, tentar perceber o que seria o futuro e aceitar o presente. Não foi nem está a ser uma fase fácil, mas neste momento já estou a aproveitar para trabalhar, investigar, ouvir muita música nova e preparar-me para voltar com novos temas.

Para quando um novo disco?

Estamos numa fase complicada para gerir timings ou fazer planos, mas teremos certamente um novo trabalho em 2021.

Dia 15 de janeiro sobe ao palco do Campo Pequeno para um concerto inserido no festival Santa Casa Portugal ao Vivo. Como vai ser regressar ao palco em plena pandemia e com a lotação mais reduzida do que o habitual?

Estou muito ansiosa, com muita vontade que o dia chegue! Os concertos que fizemos este ano foram todos muito especiais, com a emoção à flor da pele por parte de toda a equipa. Queremos fazer o melhor para quem nos está a ver e nunca sabemos quando vamos voltar a ter um novo espetáculo, então é um misto de sensações que nos deixam o coração bem apertado e sem vontade de deixar o palco.

Um desejo para 2021?

2020 foi um ano de desafios, que nos fez parar e olhar para a vida de uma perspetiva completamente diferente, e que testou, sem dúvida, a nossa capacidade de luta e resiliência… Desejo, acima de tudo, muita saúde, e desejo que todos tenhamos esperança por um futuro melhor, empatia e espírito de entre ajuda. Acredito que só conseguiremos ultrapassar isto juntos, que assim melhores tempos virão e esperemos que seja o mais rápido possível.