Os livros de dezembro

Oito livros para o Natal

Os livros de dezembro

Segundo Marcel Proust “a leitura é uma amizade”. Num Natal mais ou menos confinado em que são difíceis as manifestações de amizade, vamos suprir esta limitação oferecendo livros. Eis oito propostas recém-editadas: da BD ao teatro, passando pela poesia, biografia, arte, humor e literatura infanto-juvenil. Oito sugestões para um Natal mais amigo!

Obras completas de Luís Vaz de Camões

III Volume – Teatro

Filodemo, comédia de Luís de Camões, põe em cena as peripécias de dois irmãos gémeos, Filodemo e Florimena, que se apaixonam por personagens situadas fora da sua condição social. Para além de outras temáticas, a obra expressa a ideia que o amor é uma força superior, capaz de suplantar os desníveis sociais e as condições desiguais, estabelecendo, deste modo, uma nova ordem que altera os fundamentos em que a sociedade assenta. Esta noção, cara ao autor, está igualmente presente nas suas outras duas obras dramatúrgicas: Auto Chamado dos Enfatriões e Comédia D’El-Rei Seleuco. O presente volume inteiramente dedicado ao teatro camoniano, depois de um primeiro consagrado à Épica e às Cartas e de um segundo que contém a Lírica completa, cumpre o objectivo de oferecer ao leitor de língua portuguesa a obra integral do maior vulto das letras lusas. A edição, preparada por Maria Vitalina Leal de Matos, especialista na obra de Luís de Camões, inclui introduções a cada um dos géneros da sua obra, uma biografia do poeta, uma introdução geral e notas que contextualizam o autor e a época. E-Primatur

Luís de Freitas Branco

Beethoven. Vida e Personalidade

Luís de Freitas Branco (1890-1955), um dos mais relevantes nomes da música portuguesa, foi mestre de alguns dos maiores compositores nacionais do século XX. Da sua obra literária fazem parte dois títulos dedicados a Beethoven, A Vida de Beethoven (1943) e A Personalidade de Beethoven (1947), agora reunidos num volume pela Editorial Caminho. Os textos foram originalmente publicados na Biblioteca Cosmos sob direcção de Bento de Jesus Caraça. No início dos anos 30, Luís de Freitas Branco havia escrito uma longa biografia de Richard Wagner, porém para o projecto educativo e editorial de Bento de Jesus Caraça optou por se dedicar a Beethoven privilegiando a aura humanista e liberal que o compositor de Bona podia incarnar em plena Segunda Guerra Mundial e no seu imediato rescaldo. Considerando Beethoven “o mais profundo e poderoso criador musical de todos os tempos”, escreve: “(…) ele é, para músicos e não músicos, um guia e um modelo numa época como a presente, de crise das mais profundas raízes morais da humanidade.” Caminho

Italo Calvino

Orlando Furioso

O tempo é o de Carlos Magno e a acção descreve as lutas entre os infiéis e os paladinos do rei dos Francos, mais tarde imperador. Paris encontra-se assediada pelas tropas do rei sarraceno Agramante. Uma pergunta decisiva acorre aos espíritos de todos os cristãos que se preparam para a batalha final: onde está Orlando, o mais famoso herói da cristandade? Enlouquecido pelo amor que dedica à formosa Angélica, tornou-se um perigo para homens e natureza, destruindo tudo à sua passagem. Orlando Furioso, começado a escrever por Ludovico Ariosto em 1504 (e ao longo de 30 anos), é um dos grandes poemas do Renascimento. Na presente edição, a obra é contada por Italo Calvino, com partes selecionadas do poema original, que assim manifesta o seu entusiamo por este grandioso épico da literatura universal, influência maior para obras como o Dom Quixote de la Mancha de Cervantes. Calvino convida o leitor contemporâneo a descobrir um poeta que representa o mundo “como um espectáculo multicolor e multiforme para ser contemplado com irónica sabedoria.” Com ilustrações de Gustave Doré. Cavalo de Ferro

Pedro Sena-Lino

De Quase Nada a Quase Rei

Sebastião José de Carvalho e Melo é o nome do político que reformou a educação, o sistema fiscal e a Lisboa pós-terramoto, mas também do homem que, tendo escapado a uma tentativa de assassinato, a transformou num atentado à vida do próprio rei e se vingou nos Távoras e dizimou os jesuítas. Esta biografia dá conta da misteriosa forma como, no início da sua vida pública, aquele que viria a ser conhecido como Marquês de Pombal vê conjugar-se um improvável conjunto de fatores que permitem a um lavrador forçado a nascer de socalcos e xisto, a um homem sem experiência relevante, uma impressionante escalada social e política, da Real Academia das Ciências, passando pelas embaixadas em Londres e Viena, até chegar à liderança do governo da nação. Com base numa exaustiva pesquisa e na leitura rigorosa das cartas escritas e recebidas pelo Marquês de Pombal, Pedro Sena-Lino apresenta-nos o biografado através da voz do próprio. Assente em provas documentais, e apenas se permitindo uma via dedutiva quando os testemunhos se mostram menos abundantes, este livro demonstra como a relação de um líder consigo mesmo pode ter transformado medos próprios em fantasmas nacionais, muitos deles ainda presentes e atuantes nos dias de hoje. Contraponto

Rafael Bordalo Pinheiro

No Lazareto

“Ao pousar o pé no torraõ natal, no momento de estender o braço à imagem querida da pátria, em vez de ser apertado pelos braços amigos, fui apertado pelos guardas de saúde e metido no Lazareto”. Em 1879, após o encerramento do jornal O Besouro, Rafael Bordalo Pinheiro regressa do Brasil. Quando chega a Lisboa é obrigado a ficar em quarentena no Lazareto, um edifício situado em Porto Brandão, na margem sul do Tejo, que era isolado e se destinava a acolher e a desinfetar pessoas e objetos que vinham de lugares ameaçados por epidemias ou doenças contagiosas. Durante o período em que ali permaneceu devido ao perigo de propagação da febre-amarela, o artista fez a obra No Lazareto de Lisboa, publicada em 1881. Nesta publicação, profusamente ilustrada com os seus desenhos, recorda com saudade peripécias no Brasil, a viagem de barco, a sua Lisboa e regista, com humor, os dias de penitência no edifício do Lazareto. Passados 140 anos, em plena pandemia COVID 19, o livro não perdeu a graça, mas ganhou atualidade. Museu Bordallo Pinheiro/ PIM! Edições

Desmond Morris

Poses. Linguagem Corporal na Arte

No livro Manwatching (1977), Desmond Moris introduziu o tema da linguagem corporal e revelou o muito que podemos aprender ao estudarmos as acções humanas em vez de nos limitarmos a ouvir as palavras. Certo dia, o autor e Francis Bacon, ao examinarem atentamente A mulher que Chora de Picasso, iniciaram uma discussão acerca das expressões faciais na arte que o fez compreender como a questão da linguagem corporal era relevante para o pintor. Quando Bacon morreu, verificou-se que tinha um exemplar de Manwatching no quarto. A presente obra explora, justamente, a importância da linguagem corporal humana na arte. Qual a sua função social? Que emoções revela? Toda a gente entende um punho fechado ou um aperto de mão, mas outras acções encontram-se enraizadas numa fase particular da história ou numa cultura local com regras especiais de conduta. Por isso, este livro é, simultaneamente, um estudo de linguagem corporal humana, uma história cultural de costumes socias e um levantamento de estilos artísticos em mudança, que cobre uma vasta gama de criatividade, das estatuetas pré-históricas, artefactos romanos e frescos renascentistas, até à arte contemporânea e ao graffiti. Bizâncio

Edgar P. Jacobs

O Raio “U”

Edgar P. Jacobs (1904/1987), autor de banda desenhada belga, foi um dos fundadores do movimento europeu de BD criando a série Blake & Mortimer. O Raio “U”, é o seu primeiro álbum gráfico, datado de 1943. Escrito em plena II Guerra Mundial, é uma obra de ficção científica que tem lugar num planeta concebido à imagem da Terra, traçando um paralelo com a realidade histórica da época. Duas das suas nações, Norlândia e Austrádia, estão em conflito. Marduk, um cientista norlandês inventa uma nova arma, o Raio “U”, mas necessita do minério uradio para que ela funcione. Organiza então uma expedição ao interior do planeta para extrair o minério. Ele e a sua equipa vivem uma série de arriscadas aventuras, confrontando-se com vorazes animais pré-históricos, descobrindo uma cidade lacustre habitada por gigantescos homens-macacos e uma civilização reminiscente dos aztecas. Obtido o minério, a obra termina com uma advertência a favor da sua justa utilização: “Cuidado! Aquele que possuir a ‘Pedra de Vida e de Morte’ torna-se num Deus temível!” Aviso ignorado por aqueles que terminaram o conflito mundial com os horrores de Hiroshima e Nagasaki. Asa

Christian Robinson

Outro

Com uma narrativa reminiscente de Alice No País das Maravilhas, a história deste livro passa-se quase inteiramente no outro lado do espelho. No fundo, trata-se de encontrar uma outra perspectiva, de descobrir um outro mundo e de conhecer um outro eu. Esta obra mágica e sem palavras, Melhor Livro Infantil Ilustrado 2019 | New York Times e New York Public Library, promove uma insólita e colorida viagem ao outro lado do espelho, um lugar só de crianças, de brincadeiras e de passeios fora de horas. O seu autor, Christian Robinson, dedica-se à ilustração e ao cinema de animação. Recebeu, em 2016, a Menção Honrosa da Medalha Caldecott, com o livro Last Stop on Market Street. Tem ilustrado diversos livros para crianças e recebido vários prémios. Colaborou com o programa Rua Sésamo e com os estúdios de animação Pixar, como realizador de animação. Orfeu Negro