Centenário de Bernardo Santareno

Escola de Mulheres assinala data com encenação da última peça do dramaturgo

Centenário de Bernardo Santareno

A 19 de novembro, Bernardo Santareno, um dos mais destacados dramaturgos portugueses do século XX, completaria 100 anos. A data é assinalada, no Clube Estefânia, com a estreia de O Punho, aquela que foi não só a última peça escrita pelo autor escalabitano, como o último trabalho da encenadora Fernanda Lapa, falecida no início de agosto.

Santarém, 19 de novembro de 1920. Nasce António Martinho do Rosário. Depois do percurso escolar na cidade natal, parte para Lisboa para cursar Medicina, estudos que concluiria em Coimbra, cidade onde se especializa em Psiquiatria, em 1954. Nesse ano lança o seu primeiro livro de poesia, Morte na Raiz, com o pseudónimo que haveria de o imortalizar nas letras portuguesas: Bernardo Santareno. Porém, será em 1957, com A Promessa, peça teatral em três atos (levada a cena pelo Teatro Experimental do Porto nesse mesmo ano, e que depressa a censura tratou de proibir), que o nome de Bernardo Santareno começa a figurar entre os mais ilustres dramaturgos do teatro português.

Caracterizada por aquilo que o historiador José Correia de Souto considerou “uma bela imaginação dialogal e cénica”, a dramaturgia de Santareno, profundamente inspirada pela corrente neorrealista e alicerçada numa constante tensão trágica tributária do teatro de Federico Garcia Lorca, revela-se na reivindicação feroz do direito à diferença e do respeito pela liberdade e a dignidade humana face a toda e qualquer forma de opressão ou discriminação, seja ela de índole política, racial, económica ou sexual.

Entre as suas grandes obras figuram O Crime da Aldeia Velha (1959), António Marinheiro ou o Édipo de Alfama (1960), O Pecado de João Agonia (1961), O Judeu (1966) ou Português, Escritor, Quarenta e Cinco Anos de Idade (1974).

Profundamente ativo politicamente, tanto antes como depois do 25 de Abril, Santareno chegou a integrar a Assembleia Municipal de Lisboa. Morreu em Lisboa, em agosto de 1980, deixando por publicar O Punho, peça rara que, a propósito do centenário do nascimento, é levada a cena pela Escola de Mulheres.

Celebrar Santareno na despedida de Fernanda Lapa

Espaço cénico e figurinos, equipa artística e técnica foram definidos por Fernanda Lapa (1943-2020) antes de morrer. O objetivo era levar a cena pela companhia que fundou há 25 anos, a Escola de Mulheres, a último texto da autoria de Bernardo Santareno, O Punho.

Marta Lapa e Ruy Malheiro, atuais diretores artísticos da companhia, honraram a vontade e todo o trabalho já executado pela encenadora. Assim, no dia em que Santareno faria 100 anos, no Clube Estefânia estreia-se esta peça de resistência, política e feroz, que se manteve inédita até 1987, e que raramente pisou os palcos.

Em O Punho, volta-se ao Alentejo dos anos quentes da Reforma Agrária, e acompanha-se o arrebatador conflito entre D. Mafalda, a “senhora rica, dona de quase tudo”, e Maria do Sacramento, a resignada e fiel criada, que o rumo da história promoverá a protagonista. O espetáculo, em cena até 20 de dezembro, tem interpretações de Maria d’Aires, Margarida Cardeal, André Levy, Marta Lapa, Vítor Alves da Silva, André Leitão, Hugo Nicholson e Ruy Malheiro, e música de Janita Salomé.

Em paralelo, o Clube Estefânia acolhe uma exposição bibliográfica dedicada ao autor (a partir de 19 de novembro); dois colóquios, um com amigos de Santareno, como Sinde Filipe, Françoise Ariel e Luís Lucas (28 de novembro, 16h), outro com Nuno Carinhas e Isabel Medina, a propósito da produção do espetáculo da Escola de Mulheres BernardoBernarda (5 de dezembro, 16h); e ainda a exibição do documentário de Luís Filipe Costa para a RTP Bernardo Santareno Português Escritor Médico (21 de novembro, 16h).

Aviso: devido aos constrangimentos decorrentes da crise sanitária, a programação referida está sujeita a alterações.