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Ateliês para artistas cumprem meio século de existência

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Inseridos num complexo original e único, que integra 50 ateliês para artistas, a Galeria Quadrum, uma biblioteca e outros espaços de uso público, os Ateliês dos Coruchéus dedicam-se à promoção e desenvolvimento da atividade artística na cidade de Lisboa. Este lugar inesperado e improvável, criado para disponibilizar espaços para artistas plásticos poderem desenvolver o seu trabalho a preços acessíveis, abriu portas em 1970 e, desde então, já por ali passaram, ou trabalharam, nomes de relevantes no panorama artístico português. A Agenda Cultural de Lisboa foi conhecer cinco desses artistas para quem os ateliês têm tido, ou virão a ter, um papel fundamental na sua produção artística.

As celebrações dos 50 anos dos Ateliês dos Coruchéus, situados em Alvalade, têm início dia 25 deste mês com a inauguração de uma exposição organizada em núcleos – Os Artistas, constituído por painéis junto das entradas dos ateliês; O Lugar, composto por painéis colocados no jardim, e O Edifício, a instalar na biblioteca. Além disso, serão lançados um site e uma monografia e haverá um banco de memórias dos artistas pioneiros.

Diogo Evangelista

Diogo Evangelista é um estreante no complexo dos Coruchéus. O seu trabalho, que reflete sobre o estatuto da imagem e o seu potencial como veículo contracultural, é geralmente influenciado pelo ambiente gerado em estúdio. O artista acredita que o ateliê 36 não será exceção, até porque este espaço tem uma atmosfera única, favorável ao desenvolvimento de novos projetos. A maior vantagem de trabalhar num lugar com estas características está, segundo Diogo, na possibilidade de desenvolver uma rede de trabalho mais profissional que fortalece o conceito de comunidade. O complexo dos Ateliês dos Coruchéus reúne as condições ideais para se tornar num polo cultural forte na cidade de Lisboa e, para isso acontecer, será necessário criar uma sinergia não só entre os artistas que ali trabalham, mas também com outros agentes culturais externos.

Tatiana Macedo

Tatiana Macedo é outra recém-chegada aos Ateliês dos Coruchéus. No número 31 levará a cabo os seus próximos projetos: rever e organizar o seu arquivo, que resulta de anos de captura de fotografias e vídeos, editar as imagens, imprimi-las, colocá-las na parede, no chão e nas mesas, pensar sobre elas e criar relações entre elas. Para a artista vai ser muito importante trabalhar num espaço afastado daquele onde até aqui trabalhava – a sua casa. No ateliê vai poder receber mais pessoas, dialogar com outros artistas que aqui têm espaços, fazer mais studio visits, expor o seu trabalho de uma forma que ainda não tinha feito, pelo menos em Portugal. Tatiana Macedo formou-se em Londres e fez um ano de residência artística em Berlim. A sua obra desenvolve-se entre a fotografia, o cinema, a instalação, o som e as suas formas expandidas.

Laranjeira Santos

Foi-lhe atribuído o ateliê número 2 no ano de abertura do complexo e, desde aí, nunca mais saiu. Aquele espaço, habitado por 50 anos de estudos, desenhos e esculturas, foi onde todo o seu processo artístico começou, numa altura em que dividia o tempo entre o ateliê e o ensino no Liceu Camões. Para Laranjeira Santos, um dos maiores nomes portugueses da escultura contemporânea com um corpo de trabalho que oscila entre o figurativo e o abstrato, os Ateliês dos Coruchéus são uma obra fascinante, que considera fundamental para a arte em Lisboa. Conviver com os outros artistas, trocar impressões e partilhar experiências são a mais valia de um complexo como este. Nos seus primeiros anos como residente, o espaço era palco de festas, exposições coletivas e manifestações de amizade, momentos que o mestre recorda agora com saudade.

Nuno Cera

Nuno Cera ocupa o ateliê 23 do complexo há oito anos. Para o fotógrafo, este espaço é múltiplo: lugar de experiência e de teste de novos trabalhos, de fomento de colaborações artísticas, de leitura, de investigação e de escrita, de edição de vídeo e de fotografias, de arquivo e de organização de exposições. Nuno Cera considera que a existência destes ateliês é fundamental para o trabalho de todos os artistas, não só porque é um espaço dedicado exclusivamente ao trabalho e ao pensamento, mas também pelo facto de estar inserido num complexo, o que permite a partilha de experiências entre artistas. Ali, Nuno Cera tem desenvolvido os seus mais recentes trabalhos de fotografia e vídeo, que exploram as condições espaciais, arquitetónicas e urbanas através de formas ficcionais, poéticas e documentais.

Ana Pérez-Quiroga

É no ateliê 24 que Ana Pérez-Quiroga, artista visual e performer, produz, de há dois anos a esta parte, todas as suas peças, à exceção dos trabalhos mais conceptuais e que não são imediatamente materializáveis. A sua diversificada obra, que vai da fotografia à instalação, passando pelo filme, pelo desenho, pelo têxtil e pela escultura móvel onde brinca com a funcionalidade, centra-se em torno do quotidiano e seu mapeamento, na importância dos objetos comuns e problemáticas de género. Para Ana, a sinergia que se desenvolve num complexo artístico como o dos Coruchéus é uma grande mais valia. Independentemente dos artistas estarem, ou não, muitas vezes uns com os outros, o facto de se sentirem parte de uma comunidade artística gerada à volta de um polo aglutinador é de extrema importância e cria, sobretudo, uma grande massa crítica.