Autores de “crescidos” com livros para miúdos

Escritores consagrados escrevem para a infância

Autores de “crescidos” com livros para miúdos

Estamos habituados a ver as suas obras nas prateleiras das livrarias, mas raramente na secção infantojuvenil. Diz-se que é um público difícil de agradar, mas isso não parece ser nada que assuste os consagrados Rui Zink, Valter Hugo Mãe, Gonçalo M. Tavares e Ondjaki na aventura de escrever para os mais novos.

Rui Zink

O avô tem uma borracha na cabeça

“Um dia descobri que o meu avô tinha uma borracha na cabeça. As borrachas apagam coisas. E a cabeça do meu avô apagava coisas.” Assim começa o mais recente livro de Rui Zink dedicado aos mais novos, que conta a história de amor e amizade entre um avô, que lentamente vai perdendo as memórias, e o seu neto inventor, que está determinado em descobrir uma cura. Porque a questão que se impõe é: o que fazer quando alguém de quem gostamos nos começa a esquecer? Através da sensibilidade de uma criança, chega-nos a lição mais importante de todas: o amor ultrapassa qualquer barreira e é muito mais forte que o esquecimento. O avô tem uma borracha na cabeça aborda a doença de Alzheimer de forma simples e original, explicando, de forma leve, uma condição tão pesada.

Porto Editora

Ondjaki

Uma Escuridão Bonita

Após Os Transparentes, Prémio Literário José Saramago 2013, Ondjaki regressa ao universo da infância. Uma Escuridão Bonita conta a estória de um (primeiro?) beijo e a espera ansiosa para que ele aconteça, numa das noites de Luanda em que falta a luz elétrica. A infância é cheia de carências, os divertimentos das crianças rudimentares, mas o profundo lirismo do autor concede-lhes uma aura mágica e encantatória. Tudo, neste livro tão bonito, é de louvar, das palavras de Ondjaki, verdadeira constelação de estrelas na escuridão da noite, às ilustrações de António Jorge Gonçalves que recusam o referente das palavras para irem além delas. O ilustrador podia repetir com a Avó Dezanove: “A poesia não é a chuva, é o barulho da
chuva.

Caminho

Valter Hugo Mãe

Serei sempre o teu abrigo

Delicado e ternurento, este conto fala-nos sobre a fragilidade dos avós vista pelos olhos atentos do neto. De uma sensibilidade notável, as palavras de Valter Hugo Mãe arrebatam o leitor e mostram opoder dos laços de família e do afeto. Porque há um certo heroísmo em ser-se velho, em ter passado por tanto e nunca desistir, em ter perdido tanto e continuar a ter capacidade para amar. “O avô, resumido nos sentimentos, sem talento nas aflições, mais maniento e cheio de medo, só dizia: sossega, menina, sossega. Mesmo velhinhos, ele tratava-a como da primeira vez. Era uma menina.” Porque acompanhar a força do amor dos avós um pelo outro e dos dois pelo neto não é um privilégio ao alcance de qualquer um, Valter Hugo Mãe tornou-o possível através desta obra profundamente comovente.

Porto Editora

Gonçalo M. Tavares

O dicionário do menino Andersen

Insatisfeito com as definições de palavras que lia no dicionário, o menino Andersen resolve inventar um dicionário novo, inesperado, capaz de divertir e fazer rir os seus amigos. O resultado é uma espécie de enciclopédia alternativa com 53 palavras, repleta de irreverência,
humor e criatividade, com uma pitada de nonsense. Certo é que, depois de a lermos, o nosso olhar sobre coisas aparentemente tão banais como uma escova de dentes, um caixote do lixo, uma mala ou um submarino mudará para sempre. Ao texto de Gonçalo M. Tavares, para quem as palavras são como brinquedos, juntam-se as ilustrações de Madalena Matoso, que transformou um dicionário ilustrado numa espécie de manual técnico, ao estilo dos livros de
instruções.

Planeta Tangerina