Os livros de maio

Sete sugestões para o mês

Os livros de maio

Apesar do encerramento temporário das livrarias, as novidades editoriais continuam a surgir, agora disponíveis através de compra online. Destacamos sete das mais recentes, obras de grande qualidade que cobrem vários géneros literários: romance, teatro, poesia, reportagem, banda desenhada.

Rubem Fonseca

O Doente Molière

Romancista, contista e argumentista de cinema, natural de Minas de Gerais, no Brasil, com uma vintena de obras editadas, Rubem Fonseca foi galardoado com o Prémio Camões 2003. A sua obra constitui uma viagem impiedosa pelo universo urbano brasileiro, sórdido, violento e perturbador, povoado por personagens desamparadas: policias e marginais, escritores fracassados, novos-ricos frustrados, mulheres e homens desesperadamente sós. Através dos seus escritos acedemos a um mundo ficcional pleno de agressividade e de humor corrosivo, mas capaz de um inesperado lirismo. Neste romance, atípico na sua obra, o autor extrapola sobre as misteriosas, e por isso mesmo famosas, circunstâncias da morte de Molière, um momento da biografia do conhecido dramaturgo francês do século XVII que se tornou uma referência no meio teatral. O relato é narrado por um marquês anónimo, membro de ilustre estirpe, mas literato falhado que “gostaria de escrever para teatro, de ser como o meu amigo Molière ou como Racine”. Daí o seu fascínio pelos ambientes e figuras do teatro francês da época.

Sextante

Ryszard Kapuscinski

Andanças com Heródoto

Heródoto foi o autor da história da invasão persa da Grécia nos princípios do século V a.C., conhecida simplesmente como As histórias de Heródoto. Apelidado de “pai da história” foi o primeiro não só a reter o passado mas também a considerá-lo um problema filosófico ou um elemento de pesquisa que podia revelar o conhecimento do comportamento humano Recém-licenciado, a trabalhar para uma agência de notícias polaca e com um desejo inquieto de conhecer os povos além-fronteiras, Ryszard Kapuscinski, parte em reportagem, durante vários anos, levando consigo um exemplar das Histórias de Heródoto. Movido pelo espirito das reflexões do autor clássico grego, atravessa a Índia, a China, a Ásia Menor e a África. Nestas páginas, tenta perceber não só o rumo da História recente, como compreender os hábitos e costumes do “outro”, revelando “a percepção da cultura como espelho, onde nos podemos ver para nos conhecermos melhor”. Por isso, a cada manhã parte, incansável para uma nova viagem.

Livros do Brasil

Jorge Sousa Braga

Matéria Escura e outros poemas

Jorge Sousa Braga é autor de uma vasta obra poética, iniciada em 1981. A escrita de livros infantis é outro dos seus talentos. O seu Herbário (2014) foi distinguido com o Grande Prémio Gulbenkian de Literatura Infantil. O seu mais recente livro de poesia põe fim a um longo interregno após a publicação de O Novíssimo Testamento e outros poemas, em 2012. O poeta revela-nos novas reflexões pessoais em A Matéria Escura e outros poemas, obra que se inspira naquela que, em Cosmologia, é uma forma postulada de matéria que não interage com a matéria comum, nem consigo mesma. Ela só interage gravitacionalmente e, por isso, a sua presença pode ser inferida a partir de efeitos gravitacionais sobre a matéria visível: galáxias distantes, enxames de estrelas, quasares, poemas quânticos, princípios de incerteza. No poema Glosas lê-se: “Nenhum homem / é uma ilha / muito menos um continente / mas uma estrela / que brilha / e se apaga / de repente / E mesmo depois / de se apagar / pode continuar / a brilhar e- / ternamente”.

Assírio & Alvim

William Shakespeare

O Rei João

O Rei João, uma das peças históricas menos representadas de Shakespeare, aborda um tema caro ao autor: a perturbação da vida pública da Inglaterra provocada pelas disputas dinásticas. O dramaturgo examina uma das questões essenciais na Inglaterra medieval: a ilegitimidade do governante, a usurpação do poder e a sua manutenção pela força.  Na passagem do século XII para o século XIII, o Rei João, conhecido como João Sem-Terra, defende o seu direito de governar contra Arthur, seu sobrinho, filho do seu irmão mais velho, e após a morte deste contra os seus partidários. Para tal submete-se ao Papa Inocêncio III, com o qual mantinha uma disputa. A obra, frequentemente criticada pela sua estrutura episódica e enredo errático, acaba por se mostrar adequada a representar as ambiguidades e as contradições inerentes às situações de incerteza política. O decurso da acção muda frequentemente, expondo os caprichos da fortuna num estado permanente de insegurança. Tradução introdução e notas de Nuno Pinto Ribeiro.

Relógio D’Água

Paulo José Miranda

Aaron Klein

“A vida começa com gritos de dor de ambos os lados. Essas dores ficam incrustadas nos dois seres envolvidos no nascimento. Nódoas de dor que nunca saem”. É, portanto, sobre o signo da dor que nasce o romance Aaron Klein, de Paulo José Miranda, intensa busca da interioridade mais íntima do ser humano, a partir da figura de Aaron Klein, judeu regressado a Lisboa, depois de ter deixado a cidade, ainda criança, partindo com os pais rumo a Israel, a terra prometida. A partir do ponto de vista das várias personagens que habitam o livro, num discurso polifónico, a vida, o pensamento, a escrita de Aaron Klein são reconstruídos como um mosaico, em que ficção e realidade se cruzam, para esboçar um breve tratado da infelicidade humana. Personagens reais como Helder Macedo, George Steiner, Ricardo Ben-Olien, Fernando Gil juntam-se a Vera, Ruth Munzer ou Aaron Klein, para dissolver as barreiras entre ficção e real, literatura e ensaio, mostrando que, nos livros, como na vida, todos somos estrangeiros sobre a terra.

Abysmo

Luis Landero

Chuva Miúda

Chuva Miúda é um romance que se inicia com a perspectiva de uma festa e termina em desgraça. Gabriel decide celebrar o octogésimo aniversário da mãe e, para isso, terá de contactar as irmãs a fim de reunir a família para a feliz ocasião. Todavia, estes telefonemas entre irmãos despertam rancores antigos, relembram erros do passado e põem em confronto diferentes visões do mesmo episódio. Aurora, a discreta mulher de Gabriel, é a confidente pela qual passam todas as histórias que durante anos estiveram guardadas no mais fundo de cada uma das personagens. O escritor espanhol, Luis Landero, revela que todas as famílias, sob o disfarce do amor filial, escondem uma complexa teia de invejas e jogos de poder. Simultaneamente, traça um retrato social do início dos anos 80 em Espanha, o período pós-transição do Franquismo para a democracia, através da história desta família de classe média baixa que apesar do trabalho não se consegue afastar da pobreza.

Porto editora

Schuiten, Van Dormael, Gunzig, Durieux

O Último Faraó

Originalmente criada pelo belga Edgar P. Jacobs, Blake e Mortimer é uma série de grande sucesso mundial. Os protagonistas são o professor Philip Mortimer, um destacado cientista inglês, o capitão Francis Blake, membro dos serviços secretos M15, e ainda o coronel Olrik, no papel de eterno adversário Este 26º volume da série conta com uma imagem renovada e com quatro novos autores: François Schuiten, um dos grandes ilustradores belgas, Jaco Van Dormael (realizador dos filmes premiados com Oscares e em Cannes: Totó o herói, O Oitavo Dia, Sr. Ninguém), Thomas Gunzig (autor e colunista) e Laurent Durieux (autor de cartazes notabilizado por Spielberg e Coppola). Este novo albúm, fiel, mas ao mesmo tempo muito pessoal, confronta os heróis com uma energia de origem desconhecida que ameaça a sobrevivência da humanidade. Vinda das profundezas do Palácio da Justiça, em Bruxelas, ninguém parece capaz de conseguir contê-la… a não ser, talvez, Philip Mortimer. Mas, desde O Mistério da Grande Pirâmide, o tempo foi passando. Estará o professor preparado para enfrentar os mistérios do Egito que lhe regressam à memória?

Asa

 

Estes e outros livros estão presentes no novo podcast da Agenda Cultural de Lisboa, Livros em Agenda aqui