Máscara Ibérica

Regressa a Belém

Máscara Ibérica

De há 14 anos a esta parte, Lisboa recebe, em maio, o Festival Internacional da Máscara Ibérica (FIMI). Organizado pela Progestur, a EGEAC/Câmara Municipal de Lisboa e a Fundação Inatel, o FIMI decorre entre os dias 16 e 19 na Praça do Império, em Belém, e conta, nesta edição, com mais de 40 grupos de máscaras e 700 participantes. O momento alto da festa é o Grande Desfile da Máscara Ibérica (18 de maio, às 16h30) que enche as ruas com cores e sons que evocam estórias e lendas antigas do mundo rural.

Os mascarados vêm de longe, do norte da Península Ibérica, da região centro de Portugal, de Itália, da Hungria, da Colômbia  e de Macau, para celebrar uma tradição cuja origem se perde no tempo, um tempo em que os homens viviam em comunhão com a natureza. Em Portugal, é sobretudo na região de Trás-os-Montes que se mantem viva a memória de ritos seculares, celebrados  durante as Festas de Inverno que se iniciam com o solstício (21 de dezembro) e se estendem até ao Entrudo. Nessas Festas, onde se fundem elementos pagãos e cristãos, as protagonistas são as máscaras. Atrás delas estão homens que noutros tempos seriam obrigatoriamente solteiros, reproduzindo rituais de iniciação ou cerimónias de purificação, fertilidade e fecundidade.

Hoje, com o despovoamento das aldeias e o envelhecimento das populações, as regras mudaram e todos podem participar. Vestidos com trajes de lã coloridos e as máscaras terríficas que, nalguns casos, passam de geração em geração, correm pelas ruas ao som das gaitas-de-foles e dos chocalhos. Assumem-se como personagens fantásticas que, num mundo complexo feito de ritos, magia e simbologia, expurgavam os males da comunidade. Ei-las em todo o seu esplendor.

Caretos de Grijó (Bragança)

Os caretos saem à rua em Grijó da Parada durante as Festas de Santo Estêvão (26, 27 de dezembro), o padroeiro dos rapazes. Os ritos cumpridos nestas Festas datam provavelmente da época celta e são liderados pelo “Rei” e pelo ”Bispo”. Com os seus trajes de lã de cores garridas, onde predomina o vermelho, e as suas máscaras de latão de onde pendem línguas, animam o público com  gritos, saltos e o som dos chocalhos, cujo número varia em função da riqueza do traje. Transportam um cajado que serve para disciplinar a assistência e uma bexiga de porco que, segundo alguns estudiosos, sugere fecundidade.

 

Máscaros de Vila Boa (Vinhais, Bragança)

Inicialmente vinham para a rua por altura das Festas de Santo Estêvão.  Agora é no Carnaval que, em pequenos grupos, tomam conta das aldeias em busca das suas “vítimas”: as raparigas solteiras. As chocalhadas, assim se chamam as investidas dos caretos sobre as mulheres, têm na sua origem uma intencionalidade sexual, ligada à fecundação. Por este motivo, noutros tempos, as raparigas assistiam aos festejos da janela e as mulheres casadas eram impedidas de sair pelos maridos.  Os trajes de lã coloridos dos Máscaros de Vila Boa, de onde pendem franjas, contrastam com as diabólicas caraças talhadas a canivete na madeira de castanheiro ou em folha-de-flandres.

 

Caretos de Podence (Macedo de Cavaleiros)

Distinguem-se pelas máscaras vermelhas em folha-de-flandres e pelos fatos de lã tricolores (amarelo, verde e vermelho) com capuz, de onde pende um entrançado (ponta do rabo) usado para fustigar as raparigas. Animam o Entrudo Chocalheiro de Podence, considerado o mais genuíno do país o que justificou a candidatura a Património Imaterial da Humanidade em 2018. Nestas festas, que correspondem às bacanais  de março, caracterizadas pelos banquetes, mascaradas e bailes, evoca-se a ancestral ligação à natureza, à agricultura e à fertilidade.

 

Cardadores de Vale de Ílhavo (Ílhavo)

No Domingo Gordo e no dia de Carnaval, os Cardadores surgem de todo o lado, anunciados pelo barulho ensurdecedor dos chocalhos que trazem à cintura. A tradição está relacionada, como o nome indica, com o cardar da lã que aqui se converte em cardar as raparigas. Os preparativos da festa são feitos pelos homens sob grande secretismo, evocando antigos rituais de iniciação. O traje é feito de roupa interior feminina, combinação, lenço de tricana, meias e sapatilhas. A máscara, muito sofisticada e que pode pesar até 5 quilos, faz-se de cotim, cortiça, bigodes de bovino, duas asas de aves, gazetas (fitas) e fio de vela. Tudo envolto em perfume Tabu.

 

Caretos da Lagoa (Mira)

No concelho de Mira, só em Lagoa existem caretos.  A tradição de saírem no Carnaval é antiga, mas não se sabe  com rigor a data do seu início. Certa, parece ser a ligação a rituais pagãos de iniciação dos rapazes à idade adulta. A máscara dos caretos, a Campina, é pintada e ornamentada com cornos e peles de animais. Trajam saia vermelha, numa alusão ao pecado e camisa branca que simboliza a pureza. Trazem presos em correias de couro os inevitáveis chocalhos.

 

Los Carnavales de Villanueva de Valrojo (Zamora)

Pela sua longevidade e originalidade, o Carnaval de Villanueva de Valrojo tem grande fama na província espanhola de Zamora. As festividades remetem para antigos ritos pagãos de purificação e fertilidade. Os mascarados, com trajes garridos e máscaras de plástico, cortiça ou cobre, perseguem as raparigas pelas ruas das aldeias com tenazes compridas.