Os livros de maio

Os livros de maio

Maio é o mês dos livros em Lisboa. Mesmo lá para o fim, a 29, inaugura a 89.ª Feira do Livro no local icónico do Parque Eduardo VII. Celebramos o evento com seis propostas de leitura. Um volume de crónicas, um estudo sobre os debates e as polémicas à volta do fado, um ensaio sobre a história da cor verde desde a Antiguidade grega até aos nossos dias, um romance comovente sobre a cidade de Roma durante a II Guerra Mundial e uma obra que destaca os 50 homens fundamentais para a história marítima portuguesa. Permitimo-nos destacar Ciclone, obra infanto-juvenil da editora Orfeu Negro, eleita a melhor da Europa pela Feira do Livro Infantil de Bolonha 2019. Porque é em criança que nasce a paixão pelos livros e porque a qualidade das obras é essencial à fidelização da leitura.

 

António Sousa Homem

O Crepúsculo em Moledo

Pela quinta vez em duas décadas, António Sousa Homem (ASH) reúne em livro as suas crónicas. As que aqui se apresentam têm origem nas páginas do Correio da Manhã. Os leitores que acompanham a escrita semanal deste outrora advogado que encontrou em Moledo o seu reduto de vida, já concluíram que os livros de ASH são tratados filosóficos disfarçados de volume de crónicas. Ele será menos o reacionário minhoto que a capa indica em subtítulo, e mais um conservador suficientemente antigo para se alegrar com as constantes da vida e comentar o que é frívolo e passageiro com a elegância da sua doce ironia. Os principais traços do autor foram empregues em título no livro anterior, Páginas de Melancolia e Contentamento (2013). O segundo estado decorre do primeiro, e ambos possibilitam uma tão especial relação com a história familiar, a agitação mundana, e principalmente a alternância das estações observada na natureza. A botânica será das maiores paixões deste cronista que trata a língua portuguesa com a delicadeza de um paciente horticultor.

Porto Editora     

 

Alberto Franco

As Guerras do Fado

“Foi com verdadeiro assombro e indignação que ouvi (…) a transmissão de um disco com a voz de Amália (…) cantando versos do imortal Luís de Camões. (…) Porque sou portuguesa e respeito tudo o que a nossa História e Tradição nos legaram, acho que não devia ser permitido editar Luís de Camões em fado corrido”. A opinião desta leitora do Diário Popular foi, à época (1965), partilhada por intelectuais como José Cardoso Pires, ou José Gomes Ferreira. Já no século XIX, para as figuras literárias da Geração de 70 o fado era inseparável do Portugal que criticavam. No século XX, Fernando Lopes Graça considerava-o uma “canção bastarda”. Ao longo da sua história, o fado contou também com defensores de renome e sobretudo com a personalidade e a voz inigualável de Amália que lhe conferiu universalidade. A genial cantora acabou por partilhar com Camões a condição de símbolo cultural nacional. Alberto Franco traça uma brilhante análise sobre os debates e polémicas da história do fado, desde os seus dias menos felizes até à sua consagração pela UNESCO como património Cultural Imaterial da Humanidade.

Guerra & Paz

 

Michel Pastoureau

Verde – História de uma Cor

Michel Pastoureau afirma que a cor não é tanto um fenómeno natural quanto uma construção cultural complexa, um facto social: “é a sociedade que ‘faz’ a cor, que lhe dá a sua definição e o seu sentido, que constrói os seus códigos e valores, que organiza as sua práticas e determina as suas implicações”. Neste livro, inventaria a história da cor verde desde a Antiguidade grega até aos nossos dias. Difícil de fabricar e de fixar foi, ao longo dos séculos, associada a tudo o que era efémero e volúvel: a infância, o amor, a esperança, a sorte, o jogo, o acaso, o dinheiro. Só na época romântica se tornou definitivamente a cor da natureza e, mais tarde, da liberdade, da saúde, da higiene, do desporto, da ecologia. Porém, as reacções à cor verde ainda hoje são contraditórias. Na Europa, cerca de uma em cada seis pessoas tem-na como cor preferida, vendo-a como símbolo de vida e esperança, mas cerca de dez por cento detestam-na ou pensam que dá azar, ligando-a aos atributos da desordem, do veneno, do diabo e das suas criaturas.

Orfeu Negro

 

Elsa Morante

A História

Elsa Morante nasceu num bairro pobre de Roma em 1912, cidade onde residiu até à data da sua morte em 1985. Em 1941 casou-se com o escritor Alberto Moravia – o casal separar-se-ia em 1962, sem jamais se divorciar – e conheceu por seu intermédio muitos dos pensadores e escritores italianos da época. A História é, simultaneamente, um romance épico sobre a cidade de Roma durante a II Guerra Mundial e um relato intimista e poético de uma relação familiar. Ida, frágil viúva, judia pela parte da mãe, tenta proteger os seus dois filhos do fascismo, do racismo, da ruína da guerra, da fome e dos massacres. O pequeno Useppe, o filho mais novo, produto da violação de Ida por um soldado alemão, é um dos personagens de eleição da autora, crianças ou adolescentes penosamente solitários e inadaptados. Um “piralho doce de mais para este mundo” que acaba tragicamente contaminado por ele. Uma obra poderosa sobre a violência perpetrada nos humanos por uma História hostil. E como escreve Elsa Morante, no final do romance: “A História continua…”

Relógio D’Água

 

José António Rodrigues Pereira

Homens do Mar

Criada com a nacionalidade, a marinha portuguesa tem uma história que se confunde com a da Nação, pois Portugal está ligado ao mar desde os seus primórdios. Ao longo dos seus quase 900 anos de história, muitos foram os homens que se evidenciaram como navegadores, descobridores, cartógrafos, cientistas, estrategas, construtores navais. José António Rodrigues Pereira, antigo director do Museu de Marinha, apresenta-nos mais de 50 homens que foram fundamentais para a história marítima portuguesa. De D. Fuas Roupinho, comandante das galés de D. Afonso Henriques e que foi o primeiro a obter uma vitória no mar contra os mouros, até Alpoim Galvão, oficial da Armada que se distinguiu na Guerra do Ultramar. E também figuras incontornáveis como Gil Eanes, Diogo Cão, Pedro Álvares Cabral, Fernão de Magalhães, Pedro Nunes ou os reis D. Luís I e D. Carlos. Mas este livro resgata ainda personalidades menos conhecidas como Pedro e Jorge Reinel, considerados os melhores cartógrafos do seu tempo, Gabriel Ançã, que se destacou no socorro a náufragos, ou Afonso Júlio de Cerqueira, oficial da Armada que se notabilizou nas campanhas militares no Sul de Angola, durante a Primeira Guerra Mundial. Todos estes homens marcaram de forma inequívoca a História Marítima portuguesa pelo seu saber, a sua visão inovadora e a sua coragem.

A Esfera dos Livros

 

Inês Barahona e Miguel Fragata

Ciclone

M., Bernardo, Carla e Anabela são quatro adolescentes, entre os 13 e os 19 anos, que, em determinado espaço e tempo, vão escrevendo nos seus diários. Em comum, têm pelo menos uma coisa: uma montanha-russa chamada Ciclone, com 26 metros de altura, que já toda a gente experimentou, ou experimentará, ao caminhar para a idade adulta. Dos anos 70 até aos dias de hoje, este diário de emoções reúne páginas de loopings, subidas alucinantes, descidas vertiginosas, suspensões, expectativas, impressões e algumas desilusões, tal como a própria vida. O livro, que conta com as ilustrações de Mariana Malhão, é inspirado no texto do espetáculo Montanha-Russa, de Inês Barahona e Miguel Fragata, que se estreou no palco do Teatro Nacional Dona Maria II em 2018 e que regressou no início deste ano. Esta edição constitui um precioso testemunho da qualidade da editora portuguesa Orfeu Negro, eleita a melhor da Europa pela Feira do Livro Infantil de Bolonha 2019.

Orfeu Mini