Os livros de janeiro

Sugestões de leitura para começar 2019

Os livros de janeiro

Comece 2019 da melhor maneira, de mãos dados com os bons livros. “algumas pessoas nunca enlouquecem / que vidas verdadeiramente horríveis / devem ter.” Estes versos do poeta marginal Charles Bukowsky abrem a selecção de livros para o primeiro mês do ano.  A obra poética do polémico escritor norte-americano surge numa antologia imperdível da Alfaguara. O volume inicial da monumental História da Virilidade narra a formação do ideal viril na Grécia e na Roma Antiga e acompanha as suas variações durante a época medieval e a Renascença. A editora Relógio D’Água publica, pela primeira vez, As Farpas integrais de Eça de Queiroz, separadas das escritas por Ramalho Ortigão. A Rapariga do Tambor de John le Carré é uma obra clássica sobre o trágico conflito do Médio Oriente que, pela complexidade narrativa e profundidade psicológica, transcende as fórmulas habituais do romance de espionagem. Projecções de Lisboa reúne uma série de estudos sobre os principais momentos de transformação e as projecções utópicas e estratégicas para o desenvolvimento da cidade de Lisboa. Aqui Estamos Nós, dedicado aos mais novos, é uma viagem maravilhosa em torno do planeta Terra.

Georges Vigarello (Direcção)

História da Virilidade I

A virilitas romana, da qual a palavra virilidade deriva, funde as qualidades sexuais (do marido possante, procriador) com as qualidades psicológicas (do homem ponderado, vigoroso, corajoso e comedido), num ideal de força e vontade, segurança e maturidade, certeza e dominação, autoridade física e moral. Esta obra monumental reflete sobre a transformação do ideal viril nas sociedades ocidentais segundo as culturas e os tempos: os universos sociais, as subculturas, o ambiente urbano ou rural, guerreiro ou letrado. Uma questão deu origem ao presente estudo: a virilidade está em crise nas sociedades contemporâneas? Será ela própria um ideal anacrónico, fechado no passado ou estará a passar por mais um processo de metamorfose em busca de novas identidades? O primeiro de três volumes, dirigido por Georges Vigarello, diretor na École des Hautes Études en Sciences Sociales e autor de inúmeros trabalhos sobre as representações do corpo, descreve a formação do ideal viril na Grécia e na Roma Antiga e acompanha as suas variações durante a época medieval e a Renascença.

Orfeu Negro

Eça de Queiróz

As Farpas

Em 1881, Fialho de Almeida louvava As Farpas e o “humor cáustico dos dois cintilantes espíritos”. Escritas e publicadas por Eça de Queirós e Ramalho Ortigão ao longo dos anos de 1871 e 1872 em fascículos mensais de cem páginas, As Farpas foram sempre reeditadas em conjunto sem indicação das respectivas autorias. Destinadas, pelo autor de Os Maias, ao “leitor de bom senso”, estas “páginas irónicas, alegres, mordentes, justas”, pretendiam descobrir “através da penumbra confusa dos factos, alguns contornos do perfil do nosso tempo”. Os artigos reunidos nestes opúsculos de capa alaranjada, decorada com o diabo Asmodeus, constituem crónicas brilhantes sobre um país em crise que, segundo Eça, “perdeu a inteligência e a consciência moral”, onde “ninguém se respeita”, “não há nenhuma solidariedade entre os cidadãos”, “ninguém crê na honestidade dos homens públicos”, “a classe média abate-se progressivamente na imbecilidade e na inércia”, e “o povo está na miséria”. Esta edição publica, pela primeira vez, As Farpas integrais de Eça de Queiroz, separadas das escritas por Ramalho Ortigão.

Relógio D’Água

 

Charles Bukowsky

Os Cães Ladram Facas

A personalidade de Charles Bukowsky (1920-1994) foi marcada pela experiência de uma infância violenta e infeliz e o seu rosto pelas marcas profundas da acne, dando origem a um sentimento constante de rejeição. O poeta e romancista incarnou o mito do autor marginal, que desprezava as convenções sociais e se identificava com os loucos, alienados e alcoólicos, procurando, como salienta Valério Romão, seleccionador e prefaciador da presente antologia poética, “uma forma de estar no mundo sem o estar”. Na sua poesia, Bukowski recorre aos seus temas habituais; o sexo e a mulher, a infância e o álcool, os hipódromos e as apostas, a escrita e os outros escritores. O estilo, inspirado por Hemingway, é direto e recusa a complexificação geralmente associada à prática poética. A radical honestidade dos seus versos, nos quais não hesita em descrever-se nos termos menos lisonjeiros, contamina-os de uma profunda e impressiva humanidade: “demorei 15 anos a humanizar a poesia / mas vai ser preciso mais do que eu / para se humanizar a humanidade”. Tradução de Rosalina Marshall.

Alfaguara

 

John le Carré

A Rapariga do Tambor

“Tenho um caso de amor com a palestina, como no passado tive um caso de amor com os judeus”, referiu John le Carré a propósito deste seu romance de espionagem, publicado em 1983. O autor agradece na nota prévia aos inúmeros palestinos e israelitas que o ajudaram a escrever o livro. De facto, o escritor entrevistou membros dos dois lados do conflito do Médio Oriente (agentes da Mossad, Yasser Arafat) e visitou campos de refugiados em Beirute, materializando na obra uma preciosa apreensão do real e um profundo sentido de atmosfera. Inspirado, segundo se julga, em Vanessa Redgrave, narra a história de Charlie, uma atriz de teatro com convicções de extrema-esquerda e empenhada na causa de libertação da Palestina. Charlie aceita um contrato pra representar numa Ilha Grega sem imaginar que se trata de uma armadilha dos serviços secretos israelitas para capturar Khalil, um terrorista palestino. Obra admirável sobre os meandros labirínticos da espionagem internacional com uma narrativa constantemente intensificada pela suspeita, tem no centro uma trágica história de amor e de lealdades divididas.

Dom Quixote

 

João Seixas (Coordenação)

Projecções de Lisboa

Na introdução do presente livro, escreve João Seixas, coordenador do projecto: “As cidades são, por excelência, espaços de diálogo e de confronto perante lógicas múltiplas e papéis diversificados. Como notáveis acumulações de energia humana, como esteios da cultura e da política, tem sido sobretudo através das cidades que se têm desenvolvido muitas das mais pronunciadas e sempre incertas utopias, visões e projecções da humanidade”. A obra refete sobre as razões, os desejos, as condições, os processos de como e porquê, ao longo dos tempos se pensou e projectou a cidade de Lisboa. Sobre os seus momentos de transformação e as projecções utópicas e estratégicas para o seu desenvolvimento num período que decorre entra a Lisboa ainda medieval, mas já proto-imperial, e a atual Lisboa metapolitana, europeia e globalizada.

Caleidoscópio

 

Oliver Jeffers

Aqui Estamos Nós

Quando chegamos ao mundo podemos sentir-nos perdidos, pois tudo à nossa volta parece demasiado confuso. Aqui Estamos Nós funciona como guia prático para o compreendermos melhor, numa viagem maravilhosa à descoberta do planeta Terra. Este livro é um hino ao respeito pelo nosso lugar no mundo, que aborda temas como a gentileza, a consideração, a tolerância e a igualdade. Através de uma linguagem clara e direta e de ilustrações apelativas e emocionantes, Oliver Jeffers – um dos maiores autores de literatura infantil – desperta no leitor a absoluta necessidade de amar e respeitar todos os seres humanos e o planeta em que vivemos. Aqui Estamos Nós, vencedor do Prémio Design Book Awards 2018 para o melhor design de livro ilustrado para crianças, é um livro repleto de esperança e de mensagens essenciais. Afinal, isto é tudo o que temos.

Orfeu Negro