Ala dos Namorados

25 Anos de canções

Ala dos Namorados

A Ala dos Namorados está de parabéns. O grupo faz 25 anos, e resolveu comemorar em grande estilo, com um concerto numa das mais emblemáticas salas da capital – o Coliseu dos Recreios. Dia 13 de outubro a festa faz-se na companhia de muitos amigos que fazem parte da história do grupo, como João Gil e Moz Carrapa, da formação inicial.

A Ala dos Namorados surgiu em 1993. Que recordações têm dessa altura?

Manuel Paulo: Um dia o João Gil veio falar comigo, disse que tinha umas letras interessantes do João Monge e desafiou-me a trabalhar sobre elas. Gostei imediatamente, e começámos a trabalhar sobre as letras. De repente tínhamos material com valor suficiente para lhe dar vida. Começámos então a pensar em quem é que podia dar voz ao material que tínhamos. Eu tinha conhecido o Nuno no ano anterior num espetáculo do Carlos Paredes. Na altura ele era contratenor, e lembrei-me que a voz dele talvez se pudesse adequar a algumas das nossas músicas. Falámos com o Nuno, ele ouviu as canções, cantou-as e percebemos que fazia sentido e que o projeto ia funcionar com a voz dele, embora a princípio houvesse alguma estranheza, pelo lado exótico da voz dele.

O Nuno começou por ser bailarino. Como é que a música surge na sua vida?

Nuno Guerreiro: Sempre existiu paralelamente à dança, sempre cantei. De início não dava tanta atenção a esse lado, porque estava mais focado na dança, mas a voz cá andava, e sempre adorei cantar. Apercebia-me que tinha voz porque me pediam frequentemente para cantar em jantares ou festas da escola. Adorava cantar Madredeus, Amália, Vitorino, Zeca Afonso que eram as minhas referências maiores na altura. Depois, numa vertente mais pop e soul, ouvia muito Aretha Franklin e George Michael, que é um dos meus grandes ídolos.

Quando começaram o projeto imaginavam que viriam a ser uma das bandas mais marcantes dessa época?

NG: O primeiro disco teve o seu impacto, mas acho que a Ala dos Namorados foi crescendo gradualmente, e diria que só chegámos ao grande público em 1999 com o Solta-se o Beijo.

MP: Com o primeiro disco criámos uma identidade, mas não foi logo um êxito estrondoso. A Ala dos Namorados passou a existir, e depois foi crescendo. Fizemos muitos concertos, cá dentro e lá fora. Fomos a Marrocos, Canadá, Brasil, Japão… Tivemos sempre trabalho regular, mas com o Solta-se o Beijo (que é uma canção um bocadinho atípica na Ala) chegámos a mais pessoas, o que foi ótimo, porque isso levou-as a quererem ouvir as nossas canções mais antigas.

Qual é a história por trás desta música?

MP: Foi uma canção feita pelo João Gil com letra da Catarina Furtado. Estávamos no Brasil, num camarim, e ele disse que tinha uma canção para nos mostrar, mas não sabia se se adequava muito ao que estávamos habituados a fazer. Só de a ouvir com voz e guitarra achámos logo que funcionava, mas pensámos em dar a volta a canção e dar-lhe o nosso cunho, a nossa sonoridade. Depois a Catarina sugeriu que convidássemos a Sara Tavares para cantar connosco, e funcionou lindamente. É uma das canções que as pessoas mais associam à Ala dos Namorados, a par com o Zé Passarinho, os Loucos de Lisboa, O Fim do Mundo ou o Caçador de Sóis.

Têm conseguido manter-se ao longo de 25 anos. Acham que isso se deve ao facto de misturarem uma série de estilos musicais como o jazz, a pop ou o fado, por ex?

MP: Sim, juntamos todos esses estilos mas sem perder uma identidade muito própria, se não os concertos iam parecer quase uma manta de retalhos. Isso nota-se, por exemplo, no Razão de Ser, um disco que conta com artistas como o Carlos do Carmo ou o Carlão, ou seja, músicos muito diferentes, de áreas distintas da música, com estilos muito diferentes, mas há uma unidade que faz sentido em tudo aquilo.

Nesse disco gravaram novas versões, com colaboração de outros músicos como António Zambujo, Rui Pregal da Cunha ou Raquel Tavares. Foi necessário algum altruísmo para “emprestar” temas vossos a outras vozes?

NG: Acho que até é uma experiência bastante rica, porque as pessoas trazem bastante delas para as canções, o que resulta numa coisa mágica.

MP: A ideia é precisamente essa. Pensámos nas pessoas que se adequavam àquelas canções, porque de facto traziam uma grande mais-valia para o disco.

Em 2008, depois de 15 anos de carreira, decidiram fazer uma pausa. Isso reforçou ainda mais o projeto?

MP: Tínhamos que parar, já estávamos juntos há muitos anos. Foi uma fase de viragem e foi espontâneo, não foi algo pensado. Quisemos fazer outras coisas, arejar, ter novas experiências. Um dia reunimo-nos para um concerto de homenagem ao João Monge e ensaiámos como se tivéssemos estado sempre juntos. Estava tudo debaixo dos dedos, foi incrível. Foi algo natural e é isso que nos mantém juntos. Os concertos são a melhor parte disto, é a justificação de todo o trabalho. A parte de estúdio também gosto muito, de construir, de aperfeiçoar… As músicas que cantamos há 25 anos até reproduzimos a fazer o pino, se for preciso, mas quando as tocamos em frente a um público é como se fossem novas outra vez, e isso é uma sensação muito agradável. A grande prova é tocar ao vivo, e é isso que nos mantém.

Para o álbum Vintage (2016), foram buscar temas intemporais do cancioneiro português. Tiveram receio de “remexer” nestes clássicos, de os desvirtuar de alguma forma?

NG: É sempre arriscado pegar em temas com um valor histórico tão grande, e que foram grandes êxitos no passado.

MP: Para pegar numa canção como As Noites da Madeira, do Max, por ex., tivemos que a tratar com pinças, com extremo respeito, para não a desvirtuar. Ficámos contentes com o resultado, se não também não teríamos deixado o disco sair. Fomos buscar o essencial das canções e tentámos dar-lhes a nossa sonoridade, sem grandes ornamentos.

Em março lançaram o single Culpada, uma homenagem ao universo feminino…

MP: Todos os universos sobre os quais o João Monge escreve, escreve muito bem. O das mulheres é um deles. Um dos grandes motivos que faz rodar este planeta é a mulher, como é evidente. Também não é uma canção muito típica da Ala, é mais para o universo pop, chamemos-lhe assim.

A 13 de outubro festejam 25 anos de carreira no Coliseu, com convidados especiais. Como vai ser esta celebração?

MP: Teremos naturalmente convidados especiais (e algumas surpresas), que fazem parte da história da Ala: o João Gil e o Moz Carrapa, que fazem parte da formação inicial. Teremos também connosco os Shout!, o Rui Veloso, o António Zambujo, o Carlão… Podiam ser muitos mais, mas depois em vez de um concerto teríamos um espetáculo de variedades…[risos]

Qual é o futuro próximo da Ala dos Namorados?

MG: Estamos a pensar fazer um disco ao vivo e, durante o ano que vem, continuaremos em tournée.