Por Amor

'O Vento num Violino' estreia no Teatro da Politécnica

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De 5 de setembro a 13 de outubro, os Artistas Unidos levam ao palco do Teatro da Politécnica O vento num violino, do argentino Claudio Tolcachir, peça profundamente representativa da nova dramaturgia latino-americana.

Último momento da trilogia de dramas sociais assinados pelo autor e encenador argentino Claudio Tolcachir (n. 1975), O vento num violino conta histórias paralelas que a dado momento se cruzam. Como o próprio as define, estas são “histórias de pessoas desamparadas, repletas de ausência e de perda, e que giram em torno do seu projeto de amor, o qual corre sempre mal”. De um lado, há uma mãe abastada a braços com o filho, um trintão sem rumo; do outro, de um estrato social mais baixo, outra mãe, a que convive com a urgência de a filha lésbica pretender ter, com a sua companheira, a experiência da maternidade. E será precisamente esse desejo que cruza estas vidas, através de uma solução extrema e imprevisível.

Para Andreia Bento, que interpreta a personagem de Dora, a mãe mais humilde, “a peça é um desenho exagerado dos erros que podemos cometer por amor. Consigo rever-me nessas duas mães que fazem tudo pelos filhos, pensando que estão a contribuir para a felicidade deles”. Porém, por muito disfuncionais que sejam as relações familiares entre as personagens da peça, estes jovens não procuram uma existência à margem da família, antes sentem o desejo de criar um núcleo familiar alternativo que fuja à normatividade dos modelos tradicionais. A criança que vai nascer representa, para eles, uma projecção da felicidade que procuram. “Amas o desejo de ter um bébé”, diz uma personagem a outra. E a resposta que encontram passa por uma nova formulação de família: duas mães, um pai e o filho dos três.

Nome consagrado do teatro argentino, e um dos seus autores mais aplaudidos internacionalmente, Tolcachir e a companhia Timbre 4 já haviam apresentado esta peça em 2013, no Festival de Almada. Relativamente ao estilo do autor, sublinha Pedro Carraca, que interpreta a personagem de Santiago, o psicólogo: “ Tolcachir afasta-se do naturalismo e cria um universo entre o aceitável e o exagero”. Para Jorge Silva Melo, fundador e diretor artístico da companhia, o escritor representa a nova geração de uma literatura dramática cheia de tradições e caracterizada pela “riqueza, diversidade, espontaneidade, irreverência e indisciplina”.

Esta encenação coletiva dos Artistas Unidos marca a estreia de uma companhia portuguesa no teatro transgressor e surpreendente do autor de A Omissão da Família Coleman e Terceiro Corpo.

 

[texto coescrito por Luís Almeida d’Eça]