Trabalho de Ator

‘Devíamos ter parado’ nos 25 anos do Teatro Meridional

Trabalho de Ator

A encerrar as comemorações do 25.º aniversário, o Teatro Meridional apresenta um belo e comovente espetáculo sobre os atores e a criação artística. Devíamos ter parado estreia dia 15, e manter-se-á em cena até 17 de dezembro.

Quase inteiramente despojado de palavra, Devíamos ter parado – título resgatado de À espera de Godot de Beckett, sem que deixe de encerrar uma “provocação” – é uma viagem aos bastidores do teatro e, formalmente, uma quase antítese dos espetáculos que integraram o ciclo de reposições que a companhia, dirigida por Miguel Seabra e Natália Luiza, apresentou ao longo do ano.

Os seis atores em cena são desafiados a seguir as coordenadas do Meridional – “estabelecidas na memória de 25 anos de afetos”, como refere o encenador Miguel Seabra, lembrando cada ator, cada técnico, cada artista e, claro, o público – e, simultaneamente, a combiná-las com as suas enquanto indivíduos e artistas. E nas tábuas do palco, com cada espectador quase em cena, surge um poema às vezes triste, de uma imensa solidão, repleto ora de paixão ora de dor, mesmo quando desponta o humor.

Poderá parecer uma peça “pouco festiva” para assinalar um quarto de século de teatro, mas Seabra prefere encará-la como uma obra “melancólica e sem medo da tristeza”, que sublinha o trabalho invisível do ator para lá dos olhares do público. Ali o vemos, nos corpos de Margarida Gonçalves, Miguel Damião, Mónica Garnel, Paulo Pinto, Rosinda Costa e Telmo Mendes, vestindo e despindo personagens “para contar histórias ao seu semelhante, entre o maravilhoso e o efémero”, ou não fosse o teatro a metáfora de todas as vidas.