Pertencer a um lugar chamado São Luiz

‘O Público Recebe’ este domingo

Pertencer a um lugar chamado São Luiz

Quase, quase a encerrar a temporada, o Teatro São Luiz é, a 4 de junho, do público. Por “público” entendemos cerca de 70 pessoas que, desde outubro do ano passado, participaram em visitas guiadas ao Teatro, acompanharam espetáculos e ensaios e conversaram e refletiram sobre a atividade cultural, sob a coordenação atenta de Alfredo Martins, Anabela Almeida e Sara Duarte. Mas, por “público” entende-se também você que nos lê ou, simplesmente, quem neste domingo entrar no São Luiz para vivenciar in loco o que é o projeto O Público vai ao Teatro.

Promete ser um dia em cheio, aquele que o Teatro São Luiz e o coletivo de teatro meia volta e depois à esquerda quando eu disser preparam com os três grupos do projeto O Público vai ao Teatro. Foram meses de trabalho árduo em que cerca de sete dezenas de pessoas se dedicaram a descobrir, a ver e sentir e a explorar as entranhas de uma instituição cultural tão emblemática da cidade de Lisboa.

“Este projeto não pretende formar públicos. Quer, isso sim, potenciar o interesse e facilitar a aproximação das pessoas ao objeto artístico”, esclarece Alfredo Martins que, conjuntamente com Sara Duarte e Anabela Almeida coordenaram os trabalhos dos grupos tão heterogéneos que participaram, desde outubro, nesta edição de O Público vai ao Teatro. Explica Sara Duarte que o primeiro foi constituído por alunos do 5.º ano da Escola Básica Passos Manuel, “a quem propusemos o acompanhamento de vários espetáculos para os Mais Novos [programação infantojuvenil do São Luiz, dirigido por Susana Duarte], desafiando depois os miúdos a refletir sobre o que viram”. Com o objetivo claro de “facilitar um discurso crítico” a estas crianças, no evento de dia 4, caber-lhes-á organizar a Gala do Clube dos Críticos, onde, a partir de uma aturada reflexão, os melhores dos melhores serão distinguidos.

Um segundo grupo, intergeracional e “muito distinto quanto a percursos de vida”, formado, sobretudo, por moradores da Freguesia de Arroios, experimentou o Teatro em toda a sua amplitude. Isso permitiu “a estas pessoas pensar a relação entre o público e as instituições e a criação artística e, para alguns, derrubar o medo de entrar num local, este Teatro, a que pensavam, por insegurança ou por desconhecimento, não pertencer.”

Ao terceiro grupo de O Público vai ao Teatro, formado por professores e alunos finalistas da Escola Superior de Educação de Lisboa, “quisemos proporcionar um espaço de reflexão sobre a relação entre a escola, o teatro e a criação e o objeto artístico”. À semelhança do segundo grupo, os participantes acompanharam ensaios, assistiram a espetáculos e refletiram sobre o seu papel de professores e pedagogos enquanto mediadores e intermediários nessa relação.

No dia em que O Público Recebe, vamos encontrar participantes dos dois grupos, instalados em Namoradeiras dispostas pelo espaço do Teatro, a descrever os espetáculos que viram ao longo da temporada do São Luiz. Para concluir o programa, será apresentado o Manifesto do Público, ou seja, um conjunto de pensamentos e reflexões sobre a experiência obtida durante a temporada no âmbito desta edição do projeto, com os olhos postos naquilo que se pode denominar como “os direitos do público”.

“Acima de tudo, achamos que O Público vai ao Teatro deu um sentimento de pertença destas pessoas à instituição que é o São Luiz”, conclui Alfredo Martins. E é o testemunho dessa pertença que, no próximo domingo, se estenderá a todos aqueles que entrarem num Teatro que se quer cada vez mais da cidade, e de todos.