À descoberta do São Luiz

Visitas guiadas ao teatro municipal

À descoberta do São Luiz

Antes de ser São Luiz, foi D. Amélia e, pouco depois da revolução de 1910, República. É um dos teatros centenários da cidade, e também um dos mais belos. Caracterizado por uma programação eclética e destinada a todos os tipos de público, o São Luiz Teatro Municipal dispõe agora de visitas guiadas, realizadas no primeiro sábado de cada mês. Um contributo para aproximar ainda mais os lisboetas daquele que muitos já se habituaram a designar como ‘o teatro da cidade’.

Para contar a história do São Luiz é preciso recuar a finais do século XIX, quando um certo Guilherme da Silveira, ator e empresário que fez fortuna no Brasil regressa a Lisboa, e elege o Chiado para edificar um teatro à medida das suas aspirações artísticas. Rodeando-se de um grupo de financiadores, Silveira acaba por encomendar a obra ao arquiteto Ernest-Louis Reynaud que, na Rua do Tesouro Velho, dá escala a um teatro de inspiração parisiense, elegante e cosmopolita que, em homenagem à coroa e à Casa de Bragança (que cedera os terrenos para a edificação), recebe o nome de Theatro D. Amélia.

Inaugurado a 22 de maio de 1894 com a récita da ópera A Filha do Tambor-Mor, de Offenbach, o D. Amélia havia de tornar-se uma das mais distintas salas da época, acolhendo no seu palco os grandes artistas mundiais, como Sarah Bernhardt, Eleonora Duse, Novelli, Maria Guerrero ou Antoine. No foyer do atual teatro, podem ser vistas placas evocativas da passagem destas, e de outras figuras do teatro e das artes mundiais, pela sala da hoje denominada Rua António Maria Cardoso.

À semelhança do infortúnio que quase sempre teima em marcar a história dos grandes teatros do mundo, um incêndio destrói o edifício na noite de 12 para 13 de setembro de 1914, menos de quatro anos depois do Theatro D. Amélia ter dado lugar ao Teatro da República. À época, a companhia residente pertencia ao dramaturgo Lino Ferreira que se muda para o vizinho Teatro Nacional de São Carlos, por sinal, o único dos grandes teatros lisboetas que o fogo não consumiu. Como memória da tragédia, sobre o palco da sala principal, está exposta a imagem de “Santo Amianto”, adereço da peça em cena aquando do incêndio que, diz-se, foi o único salvado da terrífica noite.

Não nos cabendo aqui contar aqui toda a história – até porque à história se juntam muitas outras histórias que os visitantes poderão descobrir in loco –, convém desvendar que, em 1917, pouco depois da reconstrução, o República é adquirido pela família Ortigão Ramos, herdeira de um dos fundadores, António Ramos, passando a denominar-se Teatro São Luiz, em homenagem ao Visconde de São Luiz, por altura da sua morte.

A imagem de ‘Santo Amianto’, um adereço que sobreviveu ao incêndio de 1914

 

Depois de décadas a passar filmes, a Câmara Municipal de Lisboa adquire o teatro (então denominado São Luiz Cine) em maio de 1971, e em 1999, dá-se uma grande intervenção que passa pelo restauro exaustivo da Sala Principal e pela reconstrução do Jardim de Inverno. Devolvido à cidade em novembro de 2002, o São Luiz Teatro Municipal conta hoje com três salas de espetáculos – incluindo o Teatro-Estúdio Mário Viegas, com entrada pelo Largo do Picadeiro –, e mantém uma programação constante e diversificada nas áreas das artes cénicas e performativas, na música, na literatura e no pensamento. Em suma, um teatro para todos ou, como alguns o definem, “o teatro da cidade”.

O público à descoberta do São Luiz

Juntamente com a aposta numa programação para públicos infantojuvenis (com o programa Mais Novos), o São Luiz iniciou recentemente as visitas guiadas aos bastidores do teatro.

Na opinião de Aida Tavares, atual diretora artística do teatro municipal, “estas visitas permitem uma aproximação dos mais variados tipos de público com este Teatro”. Para além da abordagem histórica e patrimonial, “que é mais vincada nas visitas que fazemos nos primeiros sábados de cada mês, destinadas ao público em geral, aproveitamos as visitas para escolas para explicar aos miúdos como se faz um espetáculo”.

O Jardim de Inverno e o fresco de Manini ao fundo

 

Pelos bastidores, pisando o palco ou explorando as entranhas do teatro, os mais novos podem descobrir o que é um ciclorama, que responsabilidades são acatadas pelo diretor de cena durante um espetáculo ou o que funções desempenha um maquinista teatral. “Sinto que as visitas que conduzimos com as crianças criam um laço de familiaridade com o espaço que as estimula a quererem vir cá. Diria mesmo que este é um contributo essencial para a criação de novos públicos”, sublinha Aida Tavares.

As vistas guiadas ao São Luiz para o público em geral têm o custo de dois euros (grátis para crianças até aos 10 anos) e requerem marcação prévia através do telefone 213 257 662 ou endereço de e-mail visitas@teatrosaoluiz.pt. As visitas para grupos escolares estão disponíveis às segundas e quartas-feiras, e são gratuitas. Mediante contacto prévio, há ainda a hipótese de visitas para grupos organizados.