À descoberta do Gabinete Curiosidades Karnart

Um novo polo cultural em Belém

À descoberta do Gabinete Curiosidades Karnart

O coletivo liderado por Luís Castro e Vel Z recupera o antigo ateliê dos artistas plásticos Lagoa Henriques e Carlos Amado, na Avenida da Índia. Depois de uma longa demanada, casa nova para uma das estruturas artísticas mais criativas da cidade de Lisboa.

Imagine um armazém, amplo, luminoso e arejado. Lá dentro, dois artistas plásticos – os escultores Lagoa Henriques e Carlos Amado – erigiram, no seu tempo, várias estruturas a lembrar casas de um bairro típico alfacinha, com divisões espalhadas por vários pisos, tetos com claraboias para deixar entrar a luz, janelas que permitem olhares acutilantes e vivos sobre os espaços comuns. “Algo a lembrar Alfama”, como refere Luís Castro, membro fundador e diretor artístico da KARNART, o novo inquilino do espaço.

Desde a saída da secção de Anatomia da antiga Escola Superior de Medicina Veterinária, em Picoas, há cerca de cinco anos, a KARNART instalou-se num armazém do Beco da Mitra. Em janeiro deste ano, a Câmara Municipal de Lisboa assinou, com a estrutura fundada em 2001 pelo ator e encenador Luís Castro e pelo artista plástico Vel Z, um protocolo de cedência do espaço deste ateliê na Avenida da Índia, a pouco mais de 300 metros do Centro Cultural de Belém.

No novo espaço, Luís Castro pretende prosseguir a investigação perfinst que marca o percurso da KARNART desde a sua fundação.

 

Nesta nova morada, o coletivo pretende criar um polo cultural à medida do ímpeto artístico e criativo dos seus associados e amigos. Mas, também, do percurso inovador da KARNART, estrutura que tem marcado o panorama artístico e teatral português com as suas criações perfinst – aliança entre performance e instalação, a bem da “humanização do objeto e da materialização do performer”. Para isso, a estrutura passará a ter à disposição um espaço marcadamente identitário, “tão imprevisível no seu ordenamento quanto os espetáculos e criações” de Luís Castro e seus associados. “Essa é a nossa marca criativa, porque é assim que apelamos à imaginação de quem vê os nossos espetáculos”, completa.

No espaço da Avenida da Índia, a estrutura passará a dispor de um pequeno auditório para espetáculos e acolhimentos, salas de leitura e ensaio, um espaço de galeria para exposições, oficinas e um salão de chá. Futuramente, nas traseiras do edifício, esperam criar-se condições para um espaço de lazer ao ar livre e, nem os mais pequenos serão esquecidos: haverá uma sala num dos pisos do armazém, o que permitirá aos visitantes mais graúdos ter onde deixar as crianças enquanto assistem a espetáculos ou visitam exposições, ao mesmo tempo que os seus filhos se entretêm e aprendem com atividades especialmente criadas para eles.

O perfinst consiste na aliança entre performance e instalação.

 

De enorme importância para a estrutura será o centro de documentação. Conforme confidenciou Mónica Garcez, que nos guiou pelas instalações, “é essencial para a KARNART ter um espaço que compile e sistematize toda a documentação relacionada com a atividade desenvolvida ao longo dos anos, estando aqui à disposição de criadores e investigadores que se interessem pelo estudo do perfinst”. A atriz, associada da estrutura desde 2007, sublinha também outro vetor de enorme importância, aliás coerente com as preocupações ambientais da KARNART: a ecosustentabilidade do espaço. Os trabalhos de restauro que ocuparão associados e amigos ao longo destes próximos meses terão, precisamente, esse aspeto em consideração.

Falando em teatro, a KARNART prevê estrear, a 18 de junho, Petróleo, espetáculo inspirado no conto O Campo da Casilina de Pier Paolo Pasolini. Antes do final do ano, há um regresso ao universo de Raul Brandão e, para a temporada de 2015-2016, uma desafiante incursão em A Divina Comédia de Dante. Tudo a acontecer nesta “casa de cultura” que, como refere Luís Castro, “estará à altura das nossas expetativas enquanto artistas e da imaginação de quem nos visita.”