Parque das Nações, 20 anos depois

Itinerários de Lisboa

Parque das Nações, 20 anos depois

A Exposição Internacional de Lisboa de 1998 foi um momento histórico, tanto para a cidade como para o país. Sob o tema Os Oceanos, Património Para o Futuro, e tendo como propósito a comemoração dos 500 anos dos Descobrimentos Portugueses, a Expo’98 transformou uma área degradada da cidade numa zona residencial, com todas as características de uma metrópole moderna que vale a pena descobrir.

A zona de 50 hectares onde se situa aquele que é hoje o Parque das Nações e que percorre o rio ao longo de cinco quilómetros era, no final dos anos 80, um campo de contentores, matadouros e indústrias poluentes, onde as habitações próximas eram decadentes, pobres e insalubres. Em 20 anos, muito coisa mudou nesta zona oriental da cidade, principalmente na fase de preparação dos terrenos para a Expo’98. No final da exposição mundial, houve a preocupação de que os equipamentos do recinto tivessem utilização posterior, de forma a evitar o seu abandono e degradação. Ao mesmo tempo, lançaram-se grandes empreitadas públicas, como a Ponte Vasco da Gama, um interface ferroviário e uma nova linha do metropolitano com sete estações. Esta zona passou a ser um dos bairros mais modernos da cidade, reunindo áreas comerciais, culturais e de lazer e atraindo muitas empresas e instituições, tudo com uma vista privilegiada sobre o Tejo.

A Estação do Oriente, construção arrojada de Santiago Calatrava, marca o ponto de partida deste itinerário. Com uma estrutura à base de aço, é frequentemente comparada a uma catedral gótica, mas rompe com a tradição medieval da horizontalidade da linha de fecho. Na sua criação, o arquiteto espanhol aproveitou a tradição e a modernização como uma ponte entre o passado e o futuro e, na plataforma superior, Calatrava usou a iconografia da árvore relacionada com as colinas de Lisboa. A estrutura, que venceu o Prémio Brunel em 1998, acomoda uma das estações ferroviárias e rodoviárias mais importantes de Lisboa, uma estação de metropolitano (Oriente) e um espaço comercial.

De costas para a Estação do Oriente, no cruzamento da Avenida D. João II com a Avenida do Pacífico, ergue-se o edifício da Vodafone, de Alexandre Burmester e José Carlos Gonçalves. Prémio Valmor 2005, esta construção desenvolve ao nível da fenestração uma reinterpretação contemporânea de alguns temas da arquitectura do Renascimento, sendo possível estabelecer uma analogia entre ela e a Casa dos Bicos. Apresenta duas faces distintas, uma aberta ao rio e outra à avenida, e conta com uma área de construção de aproximadamente 70 mil metros quadrados. É um edifício com grande impacto urbanístico, quer pela sua dimensão e valor arquitetónico, quer pelos desafios tecnológicos que envolve.

Ao fundo, avista-se o Pavilhão de Portugal, da autoria de Álvaro Siza Vieira e que agora pertence à Universidade de Lisboa, responsável pela sua manutenção. É um edifício composto por dois corpos separados, em que um corresponde ao edifício – um volume sólido e sóbrio -, e o outro corresponde a uma ampla praça coberta por uma imponente e gigantesca pala de betão. Aquela que é uma prodigiosa obra de engenharia, baseia-se na ideia de uma folha de papel pousada sobre dois tijolos.

Dali, é possível ver ainda as Torres de São Rafael e São Gabriel, edifícios de habitação com 110 metros de altura de José Quintela. A arquitetura é visivelmente inspirada na simplicidade e elegância da proa de um barco em direção ao rio. No topo, surgem duas velas.

Seguindo pela Avenida D. João II, ao lado no Centro Comercial Vasco da Gama e no cruzamento com a Avenida do Índico, surge o edifício do Atelier ARX, dos arquitetos Nuno e José Mateus. Destinado a escritórios, comércio e estacionamento, esta construção consiste numa caixa de granito negro absoluto amaciado. Conta com uma singularidade identitária e contemporânea e com uma concepção bio-climática. Esta caixa é perfurada nos cantos, abrindo-se sobre a envolvente e emitindo conteúdos audiovisuais para o exterior.

Ao fundo, vislumbra-se o Altice Arena, de Regino Cruz, hoje uma das principais salas de espetáculos do país e que acolheu, ao longo destes 20 anos, diversas iniciativas como a Web Summit e a Cimeira da Nato.

Continuando na Avenida D. João II, contornando o edifício da NOS, encontram-se seis painéis de azulejos de Leonel Moura que retratam sereias, inspirando-se na pintura ocidental, mais concretamente em clássicos de nus femininos. Depois de escolher as imagens de nus que pretendia, tendo em conta a sua posição, encaixou a cauda de peixe através de uma colagem digital. Para completar a obra, o artista recorre ao excerto canto das sereias, do poema épico Odisseia, de Homero, para o painel do lado esquerdo.

Depois de atravessar a avenida, é altura de parar em frente ao VIP Executive Art’s Hotel da autoria de Frederico Valsassina, Prémio Valmor 2004, para apreciar o painel de azulejos de Erró. Neste painel Pop Art, o artista plástico islandês representa personagens da banda desenhada e da ficção científica norte-americanas. Erró, último discípulo vivo de Roy Lichtenstein, cedeu os direitos de autor deste painel à Fábrica Viúva Lamego.

Na rotunda adiante, desce-se pela Avenida da Boa Esperança onde, do lado esquerdo, se erguem os edifícios de Tomás Taveira, o principal representante da arquitetura pós-moderna em Portugal.

Continuando a descer a avenida, chega-se à Torre Vasco da Gama, transformada recentemente em hotel da autoria do arquiteto Nuno Leónidas, cuja estrutura simboliza duas velas que abraçam a torre.

Do lado esquerdo, encontra-se Cursiva, uma escultura de Amy Yoes em ferro pintado que lembra um gigantesco molde de uma caracter tipográfico ou a tridimensionalidade de uma capitular de um códice medieval e que evoca o vocabulário barroco português. É possível entrar na escultura e percorrê-la, rodeá-la e tentar escalá-la, o que permite ganhar, a cada movimento, perspetivas internas diferentes e novos enquadramentos exteriores.

Imediatamente atrás, descobre-se Haveráguas, um painel de azulejos desenhado especialmente para a Expo’98 pelo artista chileno Roberto Matta, último expoente da geração surrealista. Um pouco mais adiante, e ainda no âmbito da arte pública, surge O Homem Muralha, uma obra de Pedro Pires constituída por cinco esculturas antropomórficas orientadas em distintas direções, com pequenas diferenças entre si. Compostas por pequenos quadrados de ferro que agem como píxeis numa fotografia, estas figuras pretendem questionar o conceito de identidade no mundo industrial contemporâneo. Seguindo pelo Passeio dos Heróis do Mar, passar pelo Cais dos Olivais, onde se destaca Montanha Rio, uma escultura de Rui Sanches composta por três plataformas circulares cortadas por um muro, que pretende ilustrar uma ilha de repouso. A parede é rasgada por uma janela que permite ver o rio, como uma pintura, e a montanha, representada pelo bloco de pedra.

Atravessando o jardim em direção ao rio, entrar no Passeio do Tejo, percorrendo-o até chegar à escultura da Rainha D. Catarina de Bragança. Da autoria de Audrey Flack, esta é uma réplica de dez metros de altura de uma estátua construída nos Estados Unidos da América, pela Associação Friends of Queen Catherine, para celebrar o facto do Borough de Queens, em Nova Iorque, dever o seu nome a esta rainha.